Sábado também é dia de IX Jornalismo sem Fronteiras. O compromisso diário estava marcado para…
Seguimos caminhando…
Um ônibus sem catraca, nem cobrador. Na parte de baixo da janela um adesivo com o aviso: “Em dias frios não deixe a janela aberta”. Depois de um tempo no ônibus os ruídos, cochichos e conversas dos passageiros são invadidos por um barulho vindo da caixa de som que fica próxima ao motorista. Uma música está tocando em uma rádio local. Não é possível identificar qual é. O som da música não incomoda os passageiros, afinal é tão baixo que os mais distraídos ou aqueles que conversam no fundo nem notam o tom musical que tomou conta do ar.
Pode ser apenas mais uma vez pegando ônibus em Buenos Aires. Mas olhando um pouco mais atentamente, percebemos as diferenças entre usar o transporte público na capital da Argentina e na capital paulista. Música no ônibus? Ônibus sem catraca? Aviso na janela?
Essas foram as impressões durante o começo da gelada quarta-feira enquanto o grupo se dirigia até a gráfica do jornal argentino Clarín. Da Libertad, onde está localizado nosso hotel, até a Zepita, onde se localiza a gráfica, levamos um bom tempo. Tempo esse que foi aproveitado observando a mudança da paisagem ao longo do trajeto. Parece que ao passar alguns pontos depois do Obelisco, entramos em outra cidade. Suas ruas pareciam mais sujas, seus prédios mais antigos e pouco conservados, um bairro mais humilde… Enfim, com apenas alguns pesos da passagem de ônibus foi possível conhecer outro aspecto de Buenos Aires (nada turístico, e nada ver com Caminito, Obelisco, Florida…).
Na gráfica…
Já se imaginou na capa de um jornal?
Pois o nosso grupo não teve nem tempo de imaginar! Depois da visita à gráfica do Clarín fomos presenteados com uma “capa” personalizada do jornal que trazia uma foto do grupo antes da visita. Confere aí como ficou legal:
Você provavelmente já ouviu milhões de vezes que o jornal impresso vai acabar, certo? Mas eu também já ouvi que jornal de papel é que nem barata: podem os dinossauros serem extintos que elas vão continuar existindo.
Conhecer como o jornal é impresso e chega até nossas casas é uma experiência única para estudantes de jornalismo. Na gráfica passamos por todas as etapas: desde o local onde ficam os rolos de papel, até onde o produto final sai para ser distribuído. Não foi possível tirar fotos (regra da empresa), por isso gravamos um depoimento da participante Mayara para saciar a curiosidade:
O processo
Antes de chegar à gráfica é preciso que as notícias sejam escritas, apuradas, editadas… certo? E todo esse processo é feito dentro da redação do jornal que visitamos durante o período da tarde. Conhecemos a história da Clarín, suas inovações, e passamos pelas editorias do jornal em uma rápida visita.
Para os que gostam de esporte um prato cheio: visita ao diário esportivo Olé. (bem no dia em que os brasileiros lembravam que há exatamente um ano o Brasil sofria a inesquecível goleada de 7 a 1 para a Alemanha. Lembrando que o Olé é um dos diários que mais gosta de fazer brincadeiras com a nossa seleção… Mas passamos intactos pela redação do Olé, sem ouvir nenhuma piadinha…)
No fim da visita mais presentinhos: uma cópia da primeira edição impressa do Clarín.
O melhor para o fim…
Claro que a melhor parte ficou aqui para o fim do post. (Se bem que no jornalismo tradicional a melhor parte tem que vir no começo né? Mas deixei o melhor para o final como um presente para o querido leitor que segue lendo até aqui).
Antes de sairmos do Clarín, a visita recebeu um ingrediente a mais que deixou tudo ainda melhor: conversamos com o correspondente Gustavo Sierra.
Com uma história profissional incrível, o jornalista passou pelas mais diversas situações. Cobriu conflitos, guerras, passou perrengues, e teve que lidar com situações lamentáveis.
E com tanta bagagem assim era claro que as dicas de Sierra foram valiosíssimas para os participantes.
Primeiro de tudo – se você é jornalista ou estudante de jornalismo provavelmente já disse essa frase em algum momento da sua vida: “Não sei fazer contas nem lidar com números. Por isso fui ser jornalista e não engenheiro”. Se você se identificou com a frase acima (assim como eu) Gustavo Sierra tem um recado pra gente:
“Esqueça isso!!!!!”
De acordo com ele o jornalista hoje em dia precisa e deve saber lidar com dados (que envolvem números)! Afinal, se um jornalista sabe diagramar, fazer um infográfico e entende até mesmo um pouco de programação, seu trabalho será muito facilitado pois sua reportagem poderá ter a cara que ele quiser (pois ele desenvolverá tudo) e ele dependerá cada vez menos de um especialista que faça isso por ele. Contudo Sierra sabe que esse é um processo longo e complicado:
“Os repórteres não sabem utilizar essas novas tecnologias. Os jornalistas do impresso não adotaram nenhuma regra quando migraram para o digital. Eles fazem exatamente a mesma coisa que faziam antes”.
“Hoje em dia há novas maneiras de se contar uma reportagem, com fotos, vídeos, mapas. Se o jornalista entende um pouco de programação ele mesmo pode fazer tudo isso”.
O Correspondente
Por quê para jornalistas sempre parece glamoroso cobrir uma guerra?
Bom… deve ser por conta dos filmes de Hollywood que deixam tudo mais bonito. Mas a realidade é bem diferente da telinha da TV. Como conta Gustavo Sierra, nem é preciso ir para uma zona de conflito para vivenciar tal experiência:
“Existem lugares muito difíceis de trabalhar. Trabalho como correspondente quando vou ao Iraque ou quando vou a Villa Fiorito (favela de Buenos Aires). Me sinto mal quando chego na Villa e um morador me diz que está sendo ameaçado pelo chefe do narcotráfico da mesma forma que me sinto mal quando vou ao Iraque e vejo crianças feridas”.
Pensa que é fácil lidar com esse tipo de situação? Fácil só no filme…
“Muitos vão para cobrir conflitos em busca de aventura. Mas para ser correspondente em uma Zona de Conflito é preciso equilíbrio, é preciso manter a calma e conter as emoções. O repórter precisa ter muita experiência para saber lidar com tudo isso”.
E assim seguimos caminhando. E escrevendo. E apurando.
9 de julho por aqui é feriado. Mas nosso grupo segue trabalhando…
Até a próxima!
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