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Como La Nación investigou desaparecimento de submarino e ganhou mais um prêmio internacional

[:pb]MATHIAS FELIPE

DE BUENOS AIRES

O jornalismo de dados latino americano vem crescendo nos últimos anos e diversos países já foram premiados e reconhecidos pela qualidade dos trabalhos. A Argentina mostra que em um país onde o acesso a dados publicados pelo governo é complicado, o jornalismo tem papel essencial para a transparência. Desde 2014, a Argentina é o país da região que mais foi premiado pelo Data Journalism Awards da Global Editors Network (GEN).

O jornal La Nación saiu vencedor mais uma vez em 2018, com o prêmio para a melhor história de última hora por uma matéria sobre o submarino ARA San Juan que despareceu no oceano Atlântico. A jornalista Carolina Ávila contou como foi o projeto e compartilhou sua visão sobre o que faz La Nación ser um dos veículos mais premiados na área.

Ávila foi a líder de projeto do Submarino ARA San Juan no qual a equipe criou um vídeo baseado nas posições dos barcos que buscavam a embarcação desaparecida. Usando a base de dados MarineTraffic, a equipe do La Nación buscou as embarcações que estavam localizando o submarino e rastreou durante uma semana, do dia 17 de novembro até 23 de novembro, para saber a direção que as embarcações estavam seguindo.

A receita do prêmio

“Não era um projeto premeditado”, afirma Ávila sobre a história do submarino desaparecido. Entender o que estavam buscando e saber onde buscar os dados foi o primeiro passo. “Tinha gravado um vídeo dos vários barcos que se movem, e me passou pela cabeça a pergunta: O que poderia fazer com isso?”, contou.

A falta de informação sobre os barcos e o tempo restrito fizeram que a equipe do La Nación Data tivesse que ser criativa para contar a história. A equipe acessou os dados de geolocalização dos barcos que aproximavam da área de busca usando a base de dados MarineTraffic, que permite a visualização da rota de navios e tanques chegando de diversos lugares, entre as embarcações rastreadas havia oriundas do Chile, Brasil, África e costa oeste da Argentina.

Com os vídeos dos movimentos dos barcos durante os primeiros sete dias de procura, a LN Data criou um conteúdo que mostrava a evolução das buscas e movimento dos barcos na região do desaparecimento do submarino. No mesmo dia trabalharam junto à equipe de infografia para criar uma história com as imagens e contexto para publicação nos diferentes canais da empresa. “A história foi adaptada para o digital, a televisão e o impresso”, aponta.

Ao contrário da maioria das histórias de dados, a análise não estava presente nessa história. “Os dados foram apresentados como eram vistos”, comenta Ávila que aponta como um diferencial para vencerem o prêmio. Além disso, ela também enfatiza que a criatividade e a inovação foram pontos que contribuíram para o reconhecimento desse projeto. O impacto do projeto também foi um fio condutor para engajar a audiência, acrescenta.

Como os dados mudaram o jeito de contar histórias

No jornalismo tradicional, fontes são a parte mais importante de uma matéria. O jornalismo de dados é muito mais colaborativo, e a parte mais importante passa a ser dados. Devido a complexidade, colaboração de programadores, analistas de dados, designers, é essencial para o resultado, segundo Ávila. “Não se pode fazer sozinho o jornalismo de dados, precisa de uma equipe interdisciplinar porque um programador não pode contar histórias como um jornalista e um jornalista não pode entender de códigos como um programador”, acrescenta Ávila.

A equipe de jornalismo de dados do La Nación conta com 10 pessoas com diferentes funções, desde profissionais para raspagem de dados e especialista em lei de acesso à informação (LAI) até analista de dados. O grupo também trabalha com uma equipe paralela de infografia que fica responsável pela visualização de dados e interatividade.

Manter-se em dia com o que é tendência em uma área em constante e rápida mudança é outro ponto importante. O acesso a informação e o avanço da tecnologia precisam de um avanço contínuo, além de muita pesquisa e autodidatismo. Como a jornalista aponta, o desafio é aprender constantemente e não se pode apresentar desculpas. “Se não consegue fazer na ferramenta ou não possui uma licença, faça a mão”, recomenda.

Desafios do jornalismo de dados

Jornalismo de dados ganhou grande popularidade na última década com a grande gama de dados que começou a ser disponibilizada na internet com a evolução da tecnologia. “Em um mundo globalizado onde há cada vez mais informação, o melhor é organizá-la para poder acessá-la mais fácil”, afirma Ávila.

Enquanto a informação em planilhas sempre existiu, há agora novas maneiras de analisar e processar esses dados. Esse é um dos desafios que a jornalista do La Nación aponta: a necessidade de aprendizado constante. “Não pode ser conservador e ficar com uma ferramenta”, diz ela.

Usar da criatividade e criar novas formas de visualização e interação são outros desafios da área para poder aprimorar a user experience (experiência do leitor) e aumentar o engajamento. “Tecnologia mais avançadas e data science (ciência de dados) permitiram analisar dados ainda maiores”, conclui a jornalista.

Mathias Felipe é jornalista e mestrando do programa DCLead (Digital Communications Leadership) promovido pela União Europeia. Esse artigo foi escrito durante o curso Jornalismo sem Fronteiras em Buenos Aires onde ele fez uma visita à equipe do La Nación Data. Siga- o no Twitter: @mathias_felipe.

Imagem principal da Equipe do La Nación Data cortesia do La Nación Data. Da esquerda para direita: Ricardo Bom (em pé), Carolina Ávila, Bianca Pallaro, Romina Colman, Gabiela Miño, Florencia Coelho, Gabriela Bouret, Momi Peralta, Nicolás Bases e Cristian Bertelegni. Segunda imagem, gráfico dos prêmios do La Nación Data, por Mathias Felipe.

A matéria originalmente publicada no portal da Rede de Jornalistas Internacionais (IJNet). Para ler a publicação no site, clique sobre a imagem.

[:en]O jornalismo de dados latino americano vem crescendo nos últimos anos e diversos países já foram premiados e reconhecidos pela qualidade dos trabalhos. A Argentina mostra que em um país onde o acesso a dados publicados pelo governo é complicado, o jornalismo tem papel essencial para a transparência. Desde 2014, a Argentina é o país da região que mais foi premiado pelo Data Journalism Awards da Global Editors Network (GEN).

O jornal La Nación saiu vencedor mais uma vez em 2018, com o prêmio para a melhor história de última hora por uma matéria sobre o submarino ARA San Juan que despareceu no oceano Atlântico. A jornalista Carolina Ávila contou como foi o projeto e compartilhou sua visão sobre o que faz La Nación ser um dos veículos mais premiados na área.

Ávila foi a líder de projeto do Submarino ARA San Juan no qual a equipe criou um vídeo baseado nas posições dos barcos que buscavam a embarcação desaparecida. Usando a base de dados MarineTraffic, a equipe do La Nación buscou as embarcações que estavam localizando o submarino e rastreou durante uma semana, do dia 17 de novembro até 23 de novembro, para saber a direção que as embarcações estavam seguindo.

A receita do prêmio

“Não era um projeto premeditado”, afirma Ávila sobre a história do submarino desaparecido. Entender o que estavam buscando e saber onde buscar os dados foi o primeiro passo. “Tinha gravado um vídeo dos vários barcos que se movem, e me passou pela cabeça a pergunta: O que poderia fazer com isso?”, contou.

A falta de informação sobre os barcos e o tempo restrito fizeram que a equipe do La Nación Data tivesse que ser criativa para contar a história. A equipe acessou os dados de geolocalização dos barcos que aproximavam da área de busca usando a base de dados MarineTraffic, que permite a visualização da rota de navios e tanques chegando de diversos lugares, entre as embarcações rastreadas havia oriundas do Chile, Brasil, África e costa oeste da Argentina.

Com os vídeos dos movimentos dos barcos durante os primeiros sete dias de procura, a LN Data criou um conteúdo que mostrava a evolução das buscas e movimento dos barcos na região do desaparecimento do submarino. No mesmo dia trabalharam junto à equipe de infografia para criar uma história com as imagens e contexto para publicação nos diferentes canais da empresa. “A história foi adaptada para o digital, a televisão e o impresso”, aponta.

Ao contrário da maioria das histórias de dados, a análise não estava presente nessa história. “Os dados foram apresentados como eram vistos”, comenta Ávila que aponta como um diferencial para vencerem o prêmio. Além disso, ela também enfatiza que a criatividade e a inovação foram pontos que contribuíram para o reconhecimento desse projeto. O impacto do projeto também foi um fio condutor para engajar a audiência, acrescenta.

Como os dados mudaram o jeito de contar histórias

No jornalismo tradicional, fontes são a parte mais importante de uma matéria. O jornalismo de dados é muito mais colaborativo, e a parte mais importante passa a ser dados. Devido a complexidade, colaboração de programadores, analistas de dados, designers, é essencial para o resultado, segundo Ávila. “Não se pode fazer sozinho o jornalismo de dados, precisa de uma equipe interdisciplinar porque um programador não pode contar histórias como um jornalista e um jornalista não pode entender de códigos como um programador”, acrescenta Ávila.

A equipe de jornalismo de dados do La Nación conta com 10 pessoas com diferentes funções, desde profissionais para raspagem de dados e especialista em lei de acesso à informação (LAI) até analista de dados. O grupo também trabalha com uma equipe paralela de infografia que fica responsável pela visualização de dados e interatividade.

Manter-se em dia com o que é tendência em uma área em constante e rápida mudança é outro ponto importante. O acesso a informação e o avanço da tecnologia precisam de um avanço contínuo, além de muita pesquisa e autodidatismo. Como a jornalista aponta, o desafio é aprender constantemente e não se pode apresentar desculpas. “Se não consegue fazer na ferramenta ou não possui uma licença, faça a mão”, recomenda.

Desafios do jornalismo de dados

Jornalismo de dados ganhou grande popularidade na última década com a grande gama de dados que começou a ser disponibilizada na internet com a evolução da tecnologia. “Em um mundo globalizado onde há cada vez mais informação, o melhor é organizá-la para poder acessá-la mais fácil”, afirma Ávila.

Enquanto a informação em planilhas sempre existiu, há agora novas maneiras de analisar e processar esses dados. Esse é um dos desafios que a jornalista do La Nación aponta: a necessidade de aprendizado constante. “Não pode ser conservador e ficar com uma ferramenta”, diz ela.

Usar da criatividade e criar novas formas de visualização e interação são outros desafios da área para poder aprimorar a user experience (experiência do leitor) e aumentar o engajamento. “Tecnologia mais avançadas e data science (ciência de dados) permitiram analisar dados ainda maiores”, conclui a jornalista.

Mathias Felipe é jornalista e mestrando do programa DCLead (Digital Communications Leadership) promovido pela União Europeia. Esse artigo foi escrito durante o curso Jornalismo sem Fronteiras em Buenos Aires onde ele fez uma visita à equipe do La Nación Data. Siga- o no Twitter: @mathias_felipe.

Imagem principal da Equipe do La Nación Data cortesia do La Nación Data. Da esquerda para direita: Ricardo Bom (em pé), Carolina Ávila, Bianca Pallaro, Romina Colman, Gabiela Miño, Florencia Coelho, Gabriela Bouret, Momi Peralta, Nicolás Bases e Cristian Bertelegni. Segunda imagem, gráfico dos prêmios do La Nación Data, por Mathias Felipe.

 

A matéria originalmente publicada no portal da Rede de Jornalistas Internacionais (IJNet). Para ler a publicação no site, clique sobre a imagem.

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