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Argentina e Hermanos

As comemorações do Dia da Indepedência tomaram as ruas de Buenos Aires

 

HELOÍSA BARRENSE
MARIANA GONZALEZ
DE BUENOS AIRES

 

Durante as comemorações do 199º aniversário da independência argentina, as atenções se voltaram não apenas para o país, mas também para seus vizinhos latino-americanos. A Avenida de Mayo, centro social, político e econômico da capital Buenos Aires, foi tomada por barracas de culinária típica argentina, peruana, colombiana, brasileira, dominicana, entre outras nacionalidades. Entre os cozinheiros e vendedores, a multiplicidade étnica não parecia ser um problema: o diálogo entre os stands era constante e todos se tratavam como hermanos. Mario Quintero, residente da província de Córdoba, veio à capital para vender queijos artesanais no evento e não deixou de destacar a importância da data: “Esse dia é muito importante para nós, argentinos. O contato com a dança e a comida típica latina reforçam nossa identidade como continente”.

Por volta do meio dia, os visitantes abriram espaço para o desfile de dançarinos não só argentinos, mas também dos países fronteiriços — das crianças aos idosos, eram todos alunos de escolas de dança folclórica. Entre múltiplas cores, estampadas nas bandeiras e nos tradicionais vestidos das bailarinas, o discurso era claro: a independência da colonização espanhola deveria ser celebrada em conjunto.

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Jovens paraguaios perpetuam a tradição de seu país através da dança e das vestimentas típicas (crédito: Mariana Gonzalez)

 

Enquanto isso, poucos metros a frente, na Plaza de Mayo, uma longa fila se formava em frente à Casa Rosada, sede do poder executivo argentino, aberta para visitação aos feriados e finais de semana. Diego Casedor era um dos que aguardava para conhecer o edifício — ele e a esposa, moradores da província de Corrientes, traziam os três filhos pela primeira vez à Buenos Aires: “É importante que eles conheçam esse lugar, que tem muita importância histórica e institucional”, destaca, apontando a Casa Rosada, “afinal, é onde as decisões são tomadas”. Essa valorização da cultura nacional se manifesta não apenas na presença de elementos típicos da cultura argentina e latino-americana, mas nos apetrechos azuis que muitos dos transeuntes exibiam pelo evento: de broches no peito a fitas no cabelo, a cor da bandeira argentina predominava.

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Aberta para visitação aos sábados, domingos e feriados, a Casa Rosada atraiu argentinos e turistas no Nove de Julho (crédito: Mariana Gonzalez)

 

No meio da tarde, um grupo de pessoas sob a bandeira colorida de whipala subiu ao palco e ganhou a atenção do público. Era a Caminada de las Quenas, um grupo que celebra a cultura nativa dos povos andinos. Com roupas extremamente coloridas e sorrisos cativantes, o show foi embalado por músicas instrumentais, tocadas em instrumentos típicos de culturas latino-americanas, como a flauta boliviana e as quenas, dos andes centrais.

Entretanto, o Nove de Julho não foi marcado só por celebrações festivas: a Plaza de Mayo, situada entre as sedes dos três poderes da nação, foi ocupada pelas Madres de Mayo e pelo Congreso de los Pueblos, pontualmente às 15h30. O primeiro grupo, símbolo de resistência na América Latina por reivindicar há 38 anos explicações sobre os desaparecidos da Ditadura Argentina, promoveu a tradicional marcha das quintas-feiras. Logo atrás, os militantes colombianos do Congreso de los Pueblos — organização social que promove e defende as minorias latino-americanas e idealiza a irmandade entre os países do continente — protestavam contra o encarceramento arbitrário de imigrantes. O grupo denunciava as condições de vida em sua terra natal e pedia, ainda, asilo à presidenta Cristina Kirchner, que até então não os havia recebido.

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 Há 38 anos, as Madres de Mayo promovem marchas semanais em busca de explicações sobre os desaparecidos da Ditadura Militar

 

A data, marcada pela libertação argentina da colonização espanhola, une os povos que se viram desprendidos do domínio do mesmo império. Celebrar a Independência se torna, portanto, um ato importante para a recordação da identidade e autonomia dos países latino-americanos. Marcado igualmente por manifestações culturais e políticas, o Nove de Julho uniu povos, prática essencial para o desenvolvimento do continente, como destaca Javier Castellanos, colombiano líder do Congreso de los Pueblos: “Os países latino-americanos seguiram por histórias similares e têm necessidades comuns, por isso, ainda há muito a ser conquistado em conjunto, como hermanos. Ele conclui: a diferença nos fortalece”.

Confira mais imagens das comemorações e passeatas do 9 de julho no vídeo abaixo:

 

HELOÍSA BARRENSE e MARIANA GONZALEZ são estudantes de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero e integrantes da 4ª edição do programa Jornalismo Sem Fronteiras. Encantadas com tudo que envolve a América Latina, em especial sua cultura, consideram ímpar a experiência de cobrir o Nove de Julho na Argentina.

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