Sábado também é dia de IX Jornalismo sem Fronteiras. O compromisso diário estava marcado para…
Entre redes, links e despedidas
O prédio da Asociación da la Prensa de Madrid impressiona tanto por fora quanto por dentro: é um casarão antigo, relíquia da época em que o bairro era ocupado por famílias da alta classe da Espanha, com tapeçarias, móveis de madeira pesada e uma biblioteca com exemplares de livros de edições tão antigas quanto 1800, um acervo construído durante os mais de 100 anos da associação e disponível para consulta para todos os seus membros. São livros de comunicação e jornalismo, de sociologia, jornais e revistas diários, informes produzidos pela associação e catálogos com o nome e biografia de todos os associados, tudo o que pode ser necessário para ajudar os jornalistas que frequentam seus arquivos.
E não é só isso, atualmente também há a oferta de serviços jurídicos e médicos e o apoio da associação em qualquer caso de injustiça trabalhista. Se compararmos com uma das funções principais da associação quando ela foi formada em 1890, a de mediar uma resolução pacífica em discordâncias entre jornalistas para evitar que eles se enfrentassem em duelos (sim, aqueles de espadas no meio da rua. Imagina!), parece que uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas na base continua a mesma: a de unir os membros da profissão para oferecer-lhes apoio e facilitar que eles ajudem uns aos outros.
Poder contar com o apoio dos colegas é algo muito importante para um jornalista, e principalmente para um correspondente. Tão importante que foi repetido pelos quatro profissionais com quem conversamos na APM na manhã de sexta-feira: Afonso Sanchez foi correspondente da Rádio Pública em Bruxelas, David Corral trabalhou para a Agência EFE em países desde a França até o Japão, Nemesio Rodríguez foi correspondente também da Agência AFE por mais de 20 anos, estando na Itália, Brasil, EUA, Líbano e Peru, entre outros, e Vitoria Prego foi correspondente em Londres e é a atual presidente da APM.
Segundo eles, o primeiro passo que um correspondente deve tomar ao chegar em um novo país é procurar a associação de correspondentes do lugar e entrar em contato tanto com outros correspondentes quanto com jornalistas locais, porque eles já têm todas as “manhas” e dicas e poderão te ajudar com o que for possível. “Seus colegas na cidade te proporcionam algo importantíssimo que são os contatos iniciais”, diz Vitoria. É o mesmo princípio da criação da APM, unir jornalistas que estão em uma mesma situação para que se ajudem, pois sabem o quão difícil é essa profissão, e é algo imprescindível.
Já falamos disso, mas nós não podemos, e nem precisamos, fazer tudo sozinhos. Sejam em situações profissionais ou pessoais, a formação de redes de apoio é fundamental para lidar com os problemas que surgem. Vivenciamos isso durante o programa, ajudando uns aos outros a conseguir pautas, realizar entrevistas, filmar, escrever, tirar fotos, editar e superar os mais difíceis obstáculos.
É muito edificante parar para pensar e perceber que grande parte das dificuldades e também dos aprendizados e dicas que ouvimos dos veteranos nesses últimos dias foram vivenciados por nós durante o programa, seja no quesito de conhecermos o país, sua cultura e sua história à fundo, no contato com as fontes, na necessidade de ler muito e de conhecer a língua local, no compromisso e paixão com o trabalho. Ao nos reunirmos à noite para a última reunião do programa, as histórias fluíram e percebemos que os aprendizados foram muitos, e ao trocarmos essas histórias entre nós aprendemos ainda mais, surgem reflexões, fizemos os links entre teoria e prática e vivemos na pele o que nos disseram todos os profissionais com quem conversamos: que ser correspondente é difícil, mas é também muito gratificante, muito interessante, cheio de aprendizados e, sim, o melhor trabalho do mundo.
A noite foi também de despedidas, o resto da noite e sábado seriam para todos finalizarem e entregarem as matérias, e não haveriam mais atividades ou reuniões que uniriam todo o grupo. Alguns, de trabalho pronto, já iriam embora no sábado mesmo, enquanto outros irão no domingo, ao longo da semana ou até mesmo ficarão por aqui.
Viemos de todos os lugares do Brasil e pode ser que alguns de nós nunca mais se vejam pessoalmente, mas nossa rede já está formada, e com as redes sociais conexões formadas na vida real nunca se perdem de verdade. Vamos continuar nos ajudando o quanto for possível, enquanto batalhamos no mesmo caminho para realizar esse sonho de sermos correspondentes.
Nos despedimos de mais uma edição do programa com uma quantidade infinita de aprendizagens e histórias para contar, e teremos mais, muitas mais, a cada nova edição.
Nos vemos todos novamente em Buenos Aires, em julho, para o VII Jornalismo Sem Fronteiras. Esperamos vocês!
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