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Visita ao Congresso e conversa com Alan Maques

HELENA CENEVIVA, DE BRASÍLIA

5h30 da manhã. Ainda é noite e não se ouvem nem os carros da avenida, mas o despertador já fala alto. Manda que me levante, que termine os preparativos finais e caminhe até o metrô.
Do vagão ao ônibus, do ônibus ao check-in, do check-in ao vôo, chego em Brasília perto das onze horas, ainda com frio e sono. A rápida espera no ponto de ônibus sob o sol calango é suficiente para me recordar das boas lembranças que a capital já me proporcionou e reanimar meu espírito para os sete dias que virão.
A programação do primeiro dia confirmou meu ânimo positivo. Em parcelas, fomos chegando ao Congresso Nacional para a visita das 15h30. Conhecemos os principais salões das Casas, os plenários da Câmara e do Senado, a cada passo mais próximos da história e da política brasileira.

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Um dos momentos mais curiosos da visita – ao menos para mim – foi a rápida olhada que demos sobre a galeria presentes enviados aos presidentes da Câmera de Deputados por chefes de Estado e representantes diplomáticos. Em um dos cantos do salão verde, em um local aparentemente pouco relevante, localizam-se muito mais do que belos pratos decorados ou vasos reluzentes: o emissário e o destinatário daqueles presentes falam muito sobre o momento político vivido pelos países individualmente e entre si, ultrapassando o mero ato diplomático de presentar.
Cada cartão branco de identificação trazia em si uma história ora mais, ora menos interessantes. Um deles saltou aos olhos: liam-se os nomes de Michel Temer e Bashar al-Assad. Três vezes Presidente da Câmara e hoje Presidente da República, a longa história de Temer antecedeu sua conturbada chegada ao poder. Já al-Assad, uma personalidade sempre duvidosa, é ditador da Síria desde 2000 e busca centralizar seu poder em um país imerso em uma guerra civil que já dura 5 anos e aniquilou quase 500 mil pessoas.

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Quando do presenteamento, Temer cumpria o último ano de seu terceiro mandato enquanto Presidente da Câmara, em 2010 (ano imediatamente anterior a sua ascensão ao cargo de Vice-Presidente da República). Quanto a al-Assad, enquanto completava uma década de governo, não esperava que a população síria preparava-se para protagonizar os protestos pacíficos que no ano seguinte culminariam em uma guerra civil.
Saindo do Congresso, mudamos o espírito de nossa próxima atividade. Passamos do institucionalismo e formalismo do Congresso Nacional para uma conversa com o aventuroso Alan Marques, premiado fotojornalista da Folha de S. Paulo. Ele nos apresentou pontos indispensáveis, ideias, perspectivas e aprendizados essenciais a quaisquer profissionais ou aspirantes do fotojornalismo.

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Marques começou descrevendo os efeitos da transição do mundo analógico para o digital. A fotografia digital acelera o tempo. Com as câmeras atuais, os cliques são mais rápidos, infinitamente mais numerosos e muito simples de se compartilhar. Enquanto com as máquinas analógicas era preciso trocar velozmente de filme, aguardar o transporte do rolo à redação e o processo de revelação, com as digitais, depois de muito fotografar basta uma troca de cartão de memória e um e-mail cheio de bits.
Fruto dessa transformação tecnológica, Alan nos fez saltar aos olhos a ressignificação sofrida pelas redações. Se antes era preciso retornar à redação para produzir, hoje ela mora nas costas, dentro de uma mochila pesada e equipada. Enquanto, por um lado, essa mobilidade agiliza – e, em certa medida, facilita – o trabalho do jornalista, ela também faz com que o trabalho antes feito em três seja agora esperado de um só.
Além de falar sobre outros aspectos riquíssimos, como a construção de uma narrativa fotográfica, o momento da foto e o valor de notícia, finalizo esse post com a frase de Marques que talvez mais tenha me marcado:
“A partir do momento que você fotografa, ela [a foto] não te pertence mais”
As fotos, instrumentos carregados de informação, sentimento e história, depois de clicadas, deixam definitivamente de pertencer ao fotógrafo. Quem lhes atribuirá sentido, emoção e significado serão uns, outros ou muitos, todos ligados por um mesmo fio: cada qual há de ver a fotografia de uma forma distinta. Quem sabe seja aí que more uma das grandes belezas da fotografia: ao mesmo tempo que pode significar tudo, também pode não dizer nada. Caberá ao olhar de cada um sentir o que aquele aglomerado de pixels carregam em si.

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