MALU MÕES BUENOS AIRES Crédito: Malu Mões Uma redação imensa, cheia de pessoas e com…
“Baixa essa bola!”
JUNIOR BUENO, DE BUENOS AIRES
Jornalismo sem Fronteiras dia 3. (Ou: Humildade é importante. Ou: tenha um plano B)
Hoje tivemos uma jornada dupla em dois pontos opostos de Buenos Aires. O primeiro tempo foi no bairro de Barraca, na sede da editora Perfil. Segundo tempo, rodamos o mapa é fomos para Vicente Lopez, província fora de Buenos Aires, conhecer a redação do periódico La Nación. Não sou fã de futebol, mas devo reconhecer, as metáforas são ótimas. E foi no intervalo deste jogo que eu conversava com a minha colega Martha sobre como as pessoas acham que o jornalista vive uma vida que ele não vive. Ninguém é capaz de imaginar o quanto de trabalho há na produção de uma matéria, mesmo depois que ela é publicada.
Essa conversa foi motivada pelo bate papo que tivemos com Alejandro Rebossio, jornalista argentino e correspondente da Deutsch Welle em Buenos Aires. Alejandro é autor do livro Estoy Verde – Dólar. Una Pasión Argentina, que eu não só recomendo como um grande livro reportagem, como também para quem quer entender melhor este país. Aliás, aguarde um post aqui sobre este livro. Pois bem, Alejandro já era um profissional renomado, especializado em economia, professor de jornalismo e tal. Poderia ficar só colhendo os lauréis, mas se meteu no submundo do câmbio ilegal do dólar para extrair de lá uma reportagem que virou um livro.
E não parou aí, ao mudar de ramo, aceitou o convite de uma TV alemã para fazer vídeos com reportagens sobre a Argentina. É lá foi ele aprender a falar para a câmera, editar, lidar com a produção de uma matéria pra TV, que é uma coisa muito distinta do jornalismo impresso. E sabe o que foi que ele disse sobre essa mudança? “A gente tem que ter humildade de saber que não sabe tudo, que precisa aprender”.
Mas isso não significa uma desculpa para não se preparar antes para o que se vai fazer. Inclusive com um plano B ali na manga. Meu plano B não foi meu, mas me salvou. Eu fui o mediador da conversa com Alejandro e havia passado horas me preparando para isso, inclusive afiando meu espanhol. Mas ao me apresentar ao jornalista, cometi o erro de dizer que meu espanhol era horrível. Foi a deixa para ele pedir para falar em português (muito bom, por sinal), o que, acabou por deixar o bate papo um pouco mais frio. A sorte é que alguém teve a grande ideia de perguntar algo em espanhol e ele voltou ao seu idioma nativo. E a conversa fluiu muito melhor a partir daí.
Lições aprendidas: se você se preparou e sabe que pode ir bem, pelo menos tenta, não faz o falso humilde. E reconheça se tiver errado, diga que não sabe ainda, mas está a fim de aprender e que a hora não podia ser mais propícia. E outra: as pessoas tendem a falar mais em seu idioma de origem, por uma questão simples, não precisam ficar procurando correspondentes para as palavras que quer dizer. Mas tirando isto, o jogo saiu redondinho com participação de toda a equipe.
Depois do almoço, cortamos a cidade para conhecer o La Nación. Um dos maiores jornais da América Latina, fundado no século 19 e que hoje possui uma das sedes mais modernas do mundo. A gente iria acompanhar uma reunião de pauta com os editores do jornal. Eu estava feliz por estar ali. Melhor: eu estava mesmo era me achando ali. Aí eu fui passar pela portaria de acesso à redação e errei a catraca. A barra de metal quase me derruba, como quem diz “baixa essa bola aí, querido, para chegar lá em cima tem que passar por aqui, presta atenção no que você está fazendo AGORA”. Catracas são mal humoradas, mas costumam ter razão.
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