MALU MÕES BUENOS AIRES Crédito: Malu Mões Uma redação imensa, cheia de pessoas e com…
“Não tem dinheiro, como?”
MARTHA VICTORIA, DE BUENOS AIRES
Uma breve conversa sobre o valor da perseverança.
“Quem sabe concentrar-se numa coisa e insistir nela como único objetivo, obtém, ao fim e ao cabo, a capacidade de fazer qualquer coisa.”
– Mahatma Gandhi.
Hoje foi dia de conversa e, acima de tudo, de aprendizado. O dia amanheceu chuvoso, mas foi iluminado pela mente brilhante de uma jornalista.
Para mim, todo ser humano é igual e comum até que ele se prove espetacular.
Quando ela entrou na sala, pensei que se a encontrasse na rua passaria despercebida, não seria notada em uma grande multidão. Porém, no seu “bom dia” era perceptível que havia ali muita experiência de vida e muita história ser contada.
De quem estamos falando? De Sylvia Colombo. Correspondente internacional da Folha de S.Paulo na América Latina.
É o terceiro dia de programa, segundo desde que começamos a realmente trabalhar. Porém, para mim, faltava motivação. Faltava alguém que, mesmo que indiretamente, dissesse “você está no caminho”.
Sylvia chegou no dia certo e do jeito certo: com ar descontraído, falante, contando seus causos gesticulando as mãos freneticamente e ilustrando cada detalhe de suas aventuras jornalísticas de forma tão clara, espontânea e literária que era fácil de se imaginar em cada uma das situação passadas por ela.
Claro que em um grupo grande cada pessoa destaca uma história das diversas contadas pela jornalista em uma hora e meia de conversa. Todavia, admito, que para mim não foi uma história que impactou, não foi uma vivência, porque, afinal de contas, apesar de relatadas, explicadas, ilustradas, faladas, gesticuladas, não são minhas e nunca serão. Terão as minhas, eu sei que sim. E pelo menos, agora, sei qual o caminho até elas.
“Sempre guardei comigo a vontade de sair para a América Latina“. Sylvia nos contou que dentro de si já havia essa vontade de ser correspondente e que a oportunidade dada por um jornal renomado foi de grande valia tanto para seus desejos, quantos para sua profissão. É interessante pensar nisso. Hoje, após idas e vindas e agora “fixa” na Argentina, Sylvia me faz pensar em uma música de Oswaldo Montenegro, Metade, que diz: “Que essa minha vontade de ir embora, se transforme na calma e na paz que eu mereço”. Diante disso, é possível, justamente, ver a paz transparecer em seu rosto. O jeito que ela fala do “ser jornalista” traz brilho nos olhos.
Das diversas coisas que ela falou, uma me chamou atenção e é justamente a que dá o título dessa postagem. “Não tem dinheiro, como?”.
Ao nos depararmos com a crise em nosso país e o corte imenso de gastos e funcionários nas redações, o número de correspondentes internacionais dos grandes veículos tem caído absurdamente. E é exatamente nessa tecla batida pela jornalista, que minha mente insiste em continuar martelando.
O monólogo que ela usou para ilustrar a situação foi, mais ou menos, assim:
“Muitas vezes você fala pra o seu chefe uma ideia e ele diz que não tem verba, que o veículo não pode cobrir, que é muita despesa. E aí, é preciso ousar, é preciso dar um passo a mais e dizer ‘não tem dinheiro, como?’. Não tem como pagar um hotel caro? Tudo bem, eu fico num hostel. Não dá para pagar a passagem? Tudo bem, eu vou de ônibus! Não dá para ter tudo, tudo bem, dá um pouco e o resto a gente se vira!”.
A boa história está na perseverança e na vontade de contá-la. Muito mais do que aquilo que nos impede de chegar até ela.
É quase impossível resumir uma história de vida tão completa e tão complexa. Porém, o aprendizado que fica sintetiza-se em um verbo de ação, literalmente.
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