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Estagiário no Congresso Nacional

Estudante de jornalismo vive experiência na cobertura da crise política

FÁBIO BISPO 

DE BRASÍLIA

Em julho de 2016, no auge do escândalo que envolveu o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e seu processo de cassação, Victor Gomes, 20, entrou numa saia justa. Estagiário do jornalista e blogueiro Fernando Rodrigues, o estudante de jornalismo da UNB (Universidade de Brasília) recebeu uma pauta de última hora que previa ouvir os principais postulantes de Cunha, que renunciara. Depois de uma escolha democrática da redação, que incluía ainda entrevistas com Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Rogério Rosso (PSD-DF), o foca optou pela entrevista com Giacobo (PR-PR): “Eu acreditava que ele não tinha chances de ganhar, então achei que deveria ser o mais fácil de entrevistar naquele momento”, afirmou. Mas quem disse que a vida de estagiário em Brasília é fácil?

Logo no primeiro contato por telefone, Victor recebeu um não, acompanhado de um convite para um café na manhã seguinte. Mas a pauta não poderia esperar até o dia seguinte. Segundo as previsões de Rodrigues, o texto deveria ser fechado naquele dia. “Foi então que eu decidi ir até o gabinete dele”, contou Victor, na tarde do último sábado (10), aos jornalistas que participam do III Jornalismo & Poder.

Tímido, mas não temeroso, Victor explicou como conseguiu arrancar as respostas de Giacobo e não ficar para trás em relação aos demais colegas de redação –todos já jornalistas formados. “Eram oito horas da noite e eu estava lá no gabinete dele. Já estava até carregando meu celular, quando um homem saiu do gabinete. Ele era a cara do Giacobo e eu já fui cumprimentando o deputado. Eu tinha certeza que era ele, mas era o chefe de gabinete. Naquela hora eu só pensei: ‘não queria estar aqui’”.

A secretária já havia avisado que dificilmente o parlamentar daria entrevistas. Insistente, Victor não desistiu. Quando de fato era Giacobo quem saia do gabinete, o aprendiz não pensou duas vezes. A fisionomia bateu com a identidade. Mesmo assim, voltou a ouvir um não. Àquela altura da noite, Victor era o único que ainda não conseguira ouvir seu entrevistado.

“Eu cheguei pra ele e disse: ‘deputado, nós já ouvimos todos os outros candidatos, o senhor quer que eu seja demitido?’”. E acabou voltando com pelo menos três das sete perguntas respondidas. “Nas demais, ele foi evasivo. Mas o que importa é que consegui ouvir ele”, contou. Missão cumprida e matéria no ar.

 

Victor sonha em ser efetivado como repórter de política. Foto por: Fábio Bispo

Natural de Maceió (AL), Victor tentou morar em São Paulo acreditando que lá teria mais futuro como jornalista. Mas a aprovação na UNB (Universidade de Brasília) levou o garoto para a Capital Federal. “Brasília não tem nada pra se fazer. Mas é uma oportunidade para quem quer trabalhar com jornalismo político”, dispara.

Conheceu Fernando Rodrigues num seminário acadêmico e só conseguiu uma vaga com o jornalista premiado (Esso 1997) depois de insistir muito pela vaga disponibilizada através do CIEE (Centro de Integração Empresa Escola). Hoje, trabalhando para um dos maiores jornalistas de política do país, Victor tem esperanças, vontade e talento.

Indo para o quinto semestre da Faculdade de Jornalismo, há duas semanas, ingressou no novo projeto de Fernando Rodrigues, site Poder 360, que deverá culminar em breve com a desvinculação total de Rodrigues do Uol.

Entre as rotinas do site, Victor acumula a organização da agenda semanal e as idas ao Congresso Nacional. Com Fernando Rodrigues diz ter aprendido ser exigente, sempre buscando a pauta além do que estará estampado na capa dos jornalões. “Quando o STF decidiu afastar Renan com aquela liminar do ministro Marco Aurélio porque ele não poderia estar na linha sucessória do presidente por ser denunciado, eu me perguntei, quantas vezes Renan já tinha assumido antes? Pesquisei e vi que ninguém tinha dado e fiz a matéria”, contou com orgulho.

“Eu tenho dificuldades de pensar na redação, mas quando vou para o Congresso as ideias surgem”, disse. Entre outras publicações, ele lembra, por exemplo, que desmistificou o discurso de Dilma que afirmou que o governo de Michel Temer (PMDB) tinha um ministério ocupado por velhos: “A média de idade dos ministros de Dilma era de dois anos a mais que os de Temer, e mais uma vez ninguém tinha dado isso”.

Poder 360, atualmente, conta com 19 profissionais, entre eles dois estagiários de jornalismo. Assim como o projeto, o jovem Victor espera conquistar cada vez mais espaço no jornalismo político e para isso conta com o apoio de um dos maiores jornalistas políticos do país. “O Fernando me dá toda autonomia para trabalhar como repórter. Só em falar que trabalho para ele já abre portas para conseguir entrevistas. Eu sei pouco, me esforço, e tudo que aprendi foi ali”, declara.

 

Fábio Bispo é jornalista e participa do programa “Jornalismo & Poder”, que leva jornalistas e estudantes de comunicação a Brasília para uma imersão de uma semana na cobertura política.

 

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