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Adeus, Glamour
Um dos filmes menos recordados do mestre do cinema, Alfred Hitchcock, descreve a aventura de um jornalista enviado dos EUA à Europa, personagem que, ao cobrir um assassinato, se vê envolvido em uma conspiração de grandes proporções. O longa de 1940, Correspondente Estrangeiro, indicado ao Oscar de melhor filme, com um casal típico hollywoodiano jogava o jornalista numa aventura emocionante. Toda aquela glória em torno da personagem interpretada por Joel McCrea fica, na atualidade, fica restrita à ficção e a alguns poucos sortudos. Ariel Palacios, correspondente do Estadão em Buenos Aires, Argentina , é enfático ao afirmar: “O glamour do correspondente acabou”.
Confira a matéria produzida por nosso correspondente Gabriel Fabri durante o Programa Jornalismo sem Fronteiras, em Buenos Aires.
Ariel esteve em uma reunião com os participantes do projeto Jornalismo Sem Fronteiras, em que estudantes de jornalismo de São Paulo foram produzir reportagens em Buenos Aires, para sentir um pouco da rotina de um enviado especial ou de um correspondente. O jornalista contou para os jovens sua trajetória, até atingir o status que ocupa hoje. Contou a respeito do curso que fez no El Pais, dos freelas e da viagem de uma semana para Buenos Aires, que acabou se transformando no início de dezessete anos, trabalhando para o Estadão na cidade. Ele confessou: “foi bem na louca (sic) que eu vim para cá”.
Como dica aos aspirantes à profissão de jornalista, Ariel contou que muitos correspondentes estão dentro de uma espécie de bolha, e mesmo que vivam por muitos anos num mesmo lugar, não entendem nada dele. Por isso, ele ressaltou que o jornalista deve ter a mente sempre aberta para entender a lógica do país e a mentalidade das mais diferentes pessoas que constituem sua população. Conversar com todos, entender as diferenças e ter claro que o que funciona em um lugar, não necessariamente dará certo em outro. É preciso ser flexível para se adaptar ao local sem perder a noção de que escreve para um leitor de outra cultura, também com outra visão de mundo. Saber lidar com a saudade de casa também é essencial. E claro, informar-se por diferentes meios de comunicação local, para chegar a uma opinião genuína.
Sobre a vida de um jornalista internacional, Palacios contou algumas de suas histórias. A mais memorável, foi a cobertura de um terremoto no Chile, em que passou seis dias sem tomar banho e com comunicação limitada. Na ocasião, fez a cobertura mandando as informações por SMS para o celular de sua esposa, que fez a intermediação entre ele e o Estadão, já que, nos primeiros dias, não havia energia elétrica. Aproveitou o exemplo para falar a respeito do que é essencial por na mala, quando se é chamado de emergência para outro país, como quando descobriu, na academia de ginástica, que precisava pegar um avião para o Equador – terno, gravata e adaptadores de tomada.
A vida de correspondente pode ter perdido o glamour, as aventuras podem ser para poucos e o trabalho, duro e cansativo. Entretanto, nada pareceu desanimar os estudantes em seu primeiro dia de viagem. Mesmo com o cansaço, a palestra com Ariel Palacios foi muito proveitosa. E mesmo que o glamour do cargo não exista mais, é impossível não se sentir atraído por um trabalho que permita conhecer os mais diversos lugares, culturas e povos do mundo.
Por Gabriel Fabri
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