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Perigo e sensacionalismo: as dificuldades de se fotografar a guerra

O jornalismo e o fotojornalismo de guerra são importantes áreas da mídia, porém pouco exploradas por causa dos perigos que as cercam. Os profissionais que se arriscam estão longe de aventureiros que vão por conta própria buscar por freelas que os mantenham na cobertura de zonas de conflito. Além disso, nesse ambiente é importante ter ética e saber discernir sensacionalismo de notícia para garantir uma cobertura de qualidade.

 

Por Camila Alvarenga

André Liohn 2 Em coletiva, o fotojornalista André Liohn comentou as dificuldades da cobertura de guerra, esteve presente na guerra civil da Somália, na Primavera Árabe e no terremoto do Haiti. Veio para o Brasil para fazer um novo projeto, Revogo, após ter sido preso na Síria, em 2011. Um projeto que pretende mostrar a violência e os casos crônicos de demência no país. Para ele, o objetivo de seu trabalho e o motivo para se colocar em risco é informar e mobilizar os atores certos, direcioná-los para buscar uma solução aos conflitos, “A função do meu trabalho é essa”. Para isso, no entanto, é preciso ética. Segundo André, o interesse abafa e encobre a ética, sendo difícil mantê-la, “É ético eu ser tão intrusivo [para conseguir a foto]? Eu sou intrusivo, mas como e por quê estou sendo intrusivo? Você precisa ter métodos que te orientem e saber seus limites”. Sua cobertura da destruição causada pelo terremoto no Haiti foi algo que o marcou muito, testou seus limites. Citou uma situação em que estava num hospital improvisado e médicos debatiam sobre como amputariam a perna de uma menina de 2 ou 3 anos, disse: “Eu não sabia que tipo de fotografia eu poderia fazer para conseguir tirar a vida daquela criança. Os médicos podiam, mas a minha fotografia podia tirar a dignidade dela”, disse, por isso, que muitas vezes não vale a pena publicar a foto na imprensa mas dá-la a alguém que possa fazer algo, como era o caso. Com isso, concluiu sua opinião sobre ética fotojornalística, “A ética não é um pedaço de concreto. Você vai ter que moldar a ética dentro dos contextos”. André Liohn Libia Mostrou algumas fotos durante a coletiva, fotos de mortos e falou sobre elas com muita frieza. Assim, foi indagado sobre a emoção, ou falta de emoção, ao fotografar. Algo que, com certeza, influencia e altera o resultado. “Se eu for ficar pensando numa emoção, viro protagonista. Mas é óbvio que se eu não sinto emoção não adianta”, respondeu. Libyan Revolution Libyan Revolution Libyan Revolution Em seguida, entrou na questão do risco. Não só de ir para zonas de conflito em si, mas entrar na linha de fogo, “chegar mais perto”, como diria Robert Capa, para conseguir uma boa foto. “O risco pessoal meu? Eu não posso tomar essa decisão baseada simplesmente na minha vontade e percepção. É ver qual é a função disso [colocar-se em perigo para tirar a foto]”. Disse não trabalhar com civis para não expor ninguém, “Eu geralmente trabalho com aqueles que correm naturalmente os riscos daquilo que eu quero fotografar”. E finalizou com a polêmica frase que resume aquilo que ele julga como sua função de fotógrafo, “Eu não sou fotógrafo, não me interessa a fotografia de arte. O que me interessa são assuntos relevantes. A fotografia, para mim, é uma ferramenta”.   Camila Alvarenga, estudante de jornalismo e participante do III Jornalismo sem Fronteiras. Confira seu blog aqui!

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