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O próximo passo na educação brasileira
A discussão de um currículo comum nacional é do interesse de todos, mas não deve parar no básico. É necessário promover debates sobre como atingiremos crianças e adolescentes de forma eficaz e inovadora.
ISABELA MORENO
DE BRASÍLIA
Dona Terezinha é presidente da Associação de Moradores de Porto Rico, um condomínio em Santa Maria, na periferia de Brasília. De baixa estatura, toda miúda, a senhora na casa dos sessenta anos fala com convicção. Com postura de nobreza, não gagueja nem por um segundo enquanto dirige a palavra ao Senador em sua frente.
Toda a platéia apresenta semblante curioso e apreensivo. Apesar de ser hábito frequente do Senador, não é todo dia que um morador de periferia tem a chance de ser escutado. Assim como a de Dona Terezinha, as demais reivindicações têm um ponto em comum: coletividade e comunidade. Pensar no bem do lugar em que se vive faz parte da cultura de Santa Maria.
Em um encontro com uma figura política, os moradores estão interessados em questões primárias, mas de grande importância. Na platéia, uma mãe levanta para pedir por mais escolas, não porque são importantes para o desenvolvimento de seus filhos, mas porque dessa maneira se manterão ocupados, evitando que sigam o caminho do tráfico de drogas e outros crimes.
Em contrapartida a essa demanda local, não é difícil encontrar nos jornais e revistas um debate sobre a unificação dos assuntos que serão apresentados em sala de aula para esses jovens que, fugindo das tentações do crime, serão um dia os adultos participantes das decisões políticas do país.
A criação de um currículo comum nacional, a Base Nacional Curricular Comum (BNC) teve início no começo desse ano, quando o Ministério da Educação convocou pesquisadores, representantes de associações como a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) para dialogar sobre as diretrizes do projeto. Com o documento, prevê-se uma padronização nos conteúdos ensinados em cada ano escolar, da creche até o último ano do Ensino Médio.
Para o pesquisador e educador José Moran, a criação da base “É importante para ter um consenso sobre o que é essencial em cada período e que precisa ser atualizado periodicamente. A questão mais profunda é como trabalhar esses temas, de forma separada – disciplinas – ou integrada – inter e transdisciplinar”.
Os estudantes não serão os únicos afetados. A formação de professores capacitados para atender às necessidades e estimular alunos é extremamente importante e entrou em pauta. Para Moran, não basta apenas um profissional capacitado, “É importante aprender com metodologias ativas, com muita ênfase no fazer – projetos reais, desafios, jogos – e isso exige professores muito bem preparados, motivados, remunerados e uma boa infraestrutura de apoio”.
Outra perspectiva de mudança são os exames nacionais – como o ENEM, por exemplo. No cenário atual, os educadores preparam seus alunos conforme as diretrizes dos exames, caminho que deve ser invertido, uma vez que não são poucas as escolas em que “as equipes pedagógicas não estão aptas a construir propostas curriculares coesas”, conforme apontado pela jornalista Camila Camilo em reportagem à Revista Escola. A inversão de papéis reforçará a garantia de aprendizado mínimo para qualquer estudante no país.
A formulação da base comum cumpre a meta 7 do Plano Nacional de Educação (PNE) – que prevê fomentação da qualidade da Educação Básica, da aprendizagem e do fluxo escolar. Está previsto em lei o encaminhamento da BNC ao conselho Nacional de Educação até Junho de 2016.
O projeto não substituirá o Projeto Político-Pedagógico (PPP) das escolas. Depois de definidas as diretrizes, cada Secretaria de Educação terá espaço para incluir temas regionais, formando um conjunto que servirá de diretriz para a construção do PPP, respeitando as individualidades locais e necessidades.
Em meio a demandas locais e específicas, um debate em âmbito nacional se forma sem que mães, pais e Donas Terezinha sejam envolvidas. A participação de educadores é essencial, mas a de quem será afetado é indispensável – para isso, uma campanha mais eficaz deve ser feita para incentivar, por exemplo, essas mães, pais e jovens a opinar na BNC. Com estudantes ocupando escolas em São Paulo, não faltam reivindicações a serem ouvidas e consideradas, não apenas se tratando de assuntos e matérias, mas metodologias de ensino e aprendizado. É importante que a discussão de uma Base Nacional Comum seja vista apenas como ponto de partida para debates de questões que trarão verdadeiras revoluções, soluções e inovações para o Ensino no país.
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