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Canadense cruza a América de carro e fixa residência em Buenos Aires

Bruno Mazzotta se encantou com a capital portenha, onde dá aulas de inglês

ANDRÉ COSTA BRANCO
LUIZ FERNANDO TEIXEIRA

DE BUENOS AIRES

 

O ítalo-canadense Bruno Mazzotta pode facilmente passar despercebido nas ruas de Buenos Aires. Seu aspecto não é tão diferente de um argentino típico, já que muitos imigrantes italianos deixaram sua marca no país após José de San Martín liderar a revolução que libertou a Argentina da dominação espanhola. A ligação entre as duas nações contempla até mesmo uma placa de mármore rosa proveniente de Carrara, que adorna a Escada Itália da Casa Rosada.

Porém, é só ouvir Mazzotta tentar falar espanhol que dá para perceber algo fora dos padrões, a começar pelo sotaque enrolado. Ele se confunde com conjugações verbais e frequentemente se esquece de palavras simples do dia a dia, mas através de mímica e de uma dose de boa vontade de seu interlocutor, consegue se comunicar. Na verdade, está em Buenos Aires há cerca de um ano. É a cidade em que ele passou mais tempo desde que resolveu sair do Canadá.

Bruno tinha uma vida comum em Kamloops, que fica a cerca de 300 km de Vancouver, quando decidiu que precisava mudar de vida. A rotina de professor de corrida não o satisfazia mais, de forma que ele pegou seu Golf e resolveu acampar em parques no deserto dos Estados Unidos por um ano. Uma consulta às suas fotos no Facebook (pouco atualizado desde que começou a viajar) dá uma ideia de por que Bruno gosta tanto das paisagens áridas. O visual é de tirar o fôlego.

Depois do período em que dormiu em uma barraca e dentro do seu próprio carro, Mazzotta percebeu que ainda não estava pronto para voltar para casa. Decidiu então ir até o fim da América Sul, mesmo sem saber uma palavra de espanhol. O caos das ruas da Nicarágua, sem sinalização para carros e pedestres, o deixou desnorteado, mas não intimidado. Passou três meses na casa de um conhecido na Costa Rica, aprendeu o básico do básico e pegou a estrada. Mesmo que nem sempre houvesse estradas para ele.

Por exemplo, não há estradas entre o Panamá e a Colômbia. Como um carro iria passar pelo meio da floresta tropical? Ele acabou dando sorte e encontrou a única companhia que ainda fazia a travessia para a América do Sul via ferry boat. A sorte foi tanta que a empresa fechou dois meses depois, mas a essa altura ele já estava longe.

Isso porque ele passou pela América do Sul muito rápido, em cerca três meses. Tempo mais do que suficiente para se apaixonar pelo Equador, país sobre o qual ele confessou não ter nenhuma referência. A cidade de Loja o maravilhou pela combinação climática que fazia com que as árvores com que ele se acostumou a ver no Canadá crescessem no calor e sem neve, por conta da altitude.

Outra lembrança que dificilmente será esquecida por Mazzotta foi a sua visita ao Alma, o maior telescópio do mundo, que está localizado no deserto do Atacama, no Chile. Estudante de física na universidade, ele cumpriu um sonho antigo de conhecer o local de trabalho dos astrônomos – sem contar com a possibilidade de acampar no deserto, uma de suas paixões.

Mazzotta não sabe quanto tempo mais vai ficar na Argentina, onde dá aulas de inglês para sobreviver e espera adquirir um visto permanente para trabalhar. O que sabe com certeza é que vai ter que ir ao Canadá em agosto para presenciar o casamento do seu irmão. Mas a volta do filho pródigo não fará com que ele fique em Kamloops.

Para ele, não há nada que o prenda lá além do fato de ser o local do seu nascimento. Ele não gosta da ideia de permanecer preso a uma zona de conforto, pelo contrário, quer viajar cada vez mais. Pretende juntar dinheiro para, talvez, levar o Golf de volta para o Canadá, para completar um ciclo em sua vida.

Mazzotta disse estar se esforçando para frequentar mais ambientes urbanos e interagir com pessoas para superar sua fascinação pela solidão do deserto e das montanhas. Por conta disso, se esforça para praticar seu espanhol com desconhecidos nas ruas de Buenos Aires, cidade pela qual desenvolveu carinho e resolveu fincar raízes.

Foi assim que o conhecemos, na verdade. Seu espanhol ainda terrível conseguia ser pior do que o nosso dentro de um quiosque que vendia lanches com preços quase pornográficos de tão baratos, no Microcentro da capital argentina. Sem se acanhar para conversar, Bruno revelou que conhece vários pontos turísticos alternativos, como o Cemitério Chacarita e o parque da Reserva Ecológica, perto de Puerto Madero.

Mazzotta acredita que a Argentina tem o potencial de ser um dos melhores países do mundo, desde que consiga tirar o protagonismo de Buenos Aires da economia, de forma a desenvolver o interior do país. Mas ele não deve estar na América do Sul se isso acontecer. Já começou a pensar em como o Oriente Médio deve ser interessante de se conhecer e pensa em ir para lá depois que se sentir fluente em espanhol. A única coisa que talvez o desaponte é não poder ir no seu próprio carro.

 

ANDRÉ COSTA BRANCO e LUIZ FERNANDO TEIXEIRA são jornalistas participaram do “Jornalismo sem Fronteiras”, que leva a Buenos Aires profissionais para um mergulho de 10 dias no trabalho de correspondentes.

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