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As ideológicas e pragmáticas vizinhas

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As semelhanças entre as duas governantes vêm desde a militância na juventude

Pedro Neves

É evidente hoje os poder das mulheres no hemisfério ocidental, seja na iniciativa privada, seja na vida pública. O então chamado “sexo frágil” rompe cada dia mais o seu estigma de “fraco”, dominando os lares, seus lugares em empresas, conquistando postos de comando na sociedade moderna. É grande atualmente o número de executivas, presidentes de companhias e até chefes de estado. Exemplos marcantes são as Presidentes de duas potências da América Latina, Dilma Rousseff do Brasil e Cristina Kirchner da Argentina.

A primeira, mineira de Belo Horizonte, nascida em 1947, de família classe média. Ainda no colégio, começou a militar na Polop (Organização Revolucionária Marxista – Política Operária) em 1964, ano em que ocorreu o golpe militar no Brasil.

Em 1970, foi presa em São Paulo e ficou detida na Oban (Operação Bandeirantes), órgão da repressão montado pela ditadura, onde foi barbaramente torturada. Teve seus direitos políticos cassados e permaneceu por dois anos encarcerada. Em 2003, assumiu o cargo de ministra de Minas e Energia do governo Lula. A interlocução com o empresariado e o comando do programa Luz para Todos, entre outros fatores, foram decisivos para que Dilma se tornasse, em 2005, ministra-chefe da Casa Civil no lugar de José Dirceu. No início de 2009, foi detectado um câncer no seu sistema linfático, sendo submetida com sucesso a rigoroso tratamento. Candidata pelo PT (Partido dos Trabalhadores), em outubro de 2010, foi eleita a primeira mulher presidente do Brasil.

Já Cristina Kirchner, nasceu em La Plata no ano de 1953, e iniciou sua militância política peronista quando ingressou na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade Nacional de La Plata. Em 1973, Cristina e seu então namorado, Néstor Carlos Kirchner, com quem se casou, eram partidários da esquerda peronista não extremista, em plena ditadura militar.

Nas eleições de 14 de maio de 1989, ela foi eleita deputada provincial da Câmara de Deputados de Santa Cruz, onde iniciou de fato sua vida política institucional. Após o mandato presidencial do marido, em 2007, Cristina foi eleita a primeira mulher presidente da Argentina por voto direto. Em dezembro de 2011, exames de rotina detectaram um suposto câncer na tiroide, submetendo-se a uma cirurgia para sua retirada. No mesmo ano foi reeleita.

“A Dilma é mais pragmática, Cristina mais ideológica. A brasileira é mais decidida a combater a corrupção, diferente da argentina. A primeira é uma pessoa que pensa no Estado brasileiro e seu fortalecimento; a concepção da argentina é de que ‘o estado sou eu’”, afirma Federico Merke, doutor em Ciências Sociais e professor na Universidad de San Andrés, na Argentina. Ele ainda comenta sobre as próximas eleições presidenciais argentinas em 2015: “Precisamos de uma mudança estável, sem crise econômica, isso já seria um passo importante”.

Outras coincidências também unem as estadistas na maneira de comandar seus países. O governo do PT que teve início com Lula, em 2002, e o Kirchnerismo, com Néstor e Cristina Kirchner na Argentina, tiveram em comum a redução da pobreza, crescimento do PIB (por algum tempo), combate à inflação (com certo sucesso por um período), investimento em programas educacionais e sociais, além de uma política externa independente.

“Pesquisas mostram que a imagem da presidenta [Cristina ] vem caído muito nos últimos tempos, a maioria da população tem uma imagem negativa a seu respeito, querem um presidente novo e distinto”, diz Leonardo Mindez, jornalista de política do Clarín, jornal oposicionista e  com maior tiragem no país. “Depois de doze anos no poder, acho que está na hora de mudar, que venha alguém com propostas distintas”, completa. Correspondente do espanhol  El País na Argentina, Alejandro Rebossio, tem outro ponto de vista: “Esse governo proporcionou, por exemplo, a ‘Asignación Universal por Hijo’ (semelhante ao Bolsa Família), coisa que nenhum outro fez”. Ele continua: “Para os mais pobres, o Kirchnerismo se assemelha ao Peronismo, especialmente para aqueles que não viveram nos anos cinquenta. Vai ser difícil esquecer o que aconteceu nos últimos tempos”.

As comparações também podem ser feitas no quesito popularidade. Com eleições no fim do ano no Brasil e em 2015 na Argentina (Kirchner não podendo se reeleger), pesquisas mostram uma queda na confiança de ambos os governos. Segundo pesquisa realizada pelo Ibope na Argentina, em julho de 2014, houve uma diminuição de prestígio de 7% em relação ao início do ano. A Universidad Católica de Argentina (UCA), em pesquisa semelhante, mostra uma queda de 15%, em bairros de classe média. Dilma também passa por um período de queda de prestígio, segundo as pesquisas brasileiras.

São incontestáveis as semelhanças entre as líderes de duas das maiores potências sul-americanas: a história de vida, a maneira de governar e a empatia com a nação (principalmente com os mais pobres). Cristina, já no seu segundo mandato e ainda não tem um candidato definido para seguir seus passos. Dilma, é forte candidata à reeleição e ainda busca uma consolidação política. A única certeza é que essas duas grandes mulheres já fazem parte da história política mundial e dificilmente serão esquecidas por futuras gerações.

 

 

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