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SYLVIA COLOMBO: COBRINDO A HISTÓRIA ENQUANTO ELA ACONTECE

MARCELO MARIANO

BUENOS AIRES

Correspondente da Folha de S. Paulo em Buenos Aires, Sylvia Colombo é formada em jornalismo e história e já foi correspondente bolsista em Londres pelo mesmo jornal, além de repórter e editora do caderno de cultura quando esteve no Brasil.

Sylvia, embora tenha feito mestrado sobre a Argentina do século 19, cobre a história enquanto ela acontece. E, de Buenos Aires, escreve para o leitor brasileiro sobre toda a América Latina.

“O jornalismo de hoje é um grande desafio porque todos os dias você acorda e já tem um amontoado de coisas para ler. Mas, além das coisas normais do dia, tem que reservar um tempo para variar as leituras não só da imprensa, mas especialmente de livros. A curiosidade é o que move um jornalista”, declarou Sylvia em entrevista aos participantes do IX Jornalismo Sem Fronteiras, a qual tive a honra de conduzir.

Recentemente, a correspondente internacional se dedicou a cobrir a crise venezuelana também in loco. “Coberturas na Venezuela me ensinaram muito sobre como se virar como jornalista em um lugar hostil e encontrar histórias sem se sentir um abutre, porque ouço o depoimento de uma mãe cuja criança está morrendo em um hospital e depois pego um avião, vou embora e a pessoa continua lá”, disse.

Contudo, Sylvia afirma que o mundo pelo menos pode ficar sabendo dessas histórias e eventualmente quem tem o poder para tomar decisões pode fazer algo. “A Venezuela me ajudou a entender por que é importante ir aos lugares e cobrir situações como essas. É para que as pessoas saibam o que está acontecendo.”

Rotina

O mundo digital mudou a rotina de um correspondente internacional, conta Sylvia. Ela acordava de manhã, se informava sobre as principais notícias, sugeria pautas para o jornal, as desenvolvia durante o dia e enviava antes do fechamento da edição, geralmente às 19 horas.

Mas, hoje, isso já não é mais o mesmo. “Essa rotina mudou com o digital. Agora, tem que mandar quando a notícia acontece. Não pode mais esperar”, declara a jornalista, que, entre suas obrigações profissionais, arruma tempo para praticar natação, o que, segundo ela, a ajuda a ter mais disposição para trabalhar.

Cobertura marcante

Em 2016, Sylvia viveu um período na Colômbia. Lá, fez uma matéria em um acampamento das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Àquela época, o acordo de paz entre os guerrilheiros deste grupo e o governo colombiano ainda não havia sido assinado, e a jornalista brasileira ficou tensa durante todo o tempo.

Para chegar ao acampamento, ela pegou um avião em Bogotá junto com um assessor das Farc até Villavicêncio, de onde seguiu por cinco horas em um bote ao lado de um comandante armado. “Fiquei com medo. Pensei: ‘Se ele me matar, ninguém vai ficar sabendo’”, lembra.

O percurso até o destino contou, ainda, com mais três horas dentro de um jipe com outros três guerrilheiros. Chegando ao local, eles disseram o que poderia ser feito e quem poderia entrevistar. “Tudo muito controlado.”

Pouco antes de voltar, Sylvia ficou sozinha com uma família na área onde deveria pegar o barco. “Consegui uma visão diferente da que havia escutado, uma outra perspectiva. Eles disseram que havia distinção entre pessoas que tinham que trabalhar mais duro e me contaram que uma filha foi levada por um capitão a um outro lugar. Ficaram sabendo que teve um filho, mas não tiveram contato porque ela ainda não havia voltado.”

“Memorizei tudo, sem gravar ou anotar nada. Essa história ficou na minha cabeça e fez diferença na reportagem porque foi o oposto do que preparam para mim”, disse.

Fontes

No Brasil, a Folha, um dos maiores veículos do País, é um jornal reconhecido e, assim, as portas com uma fonte podem se abrir mais facilmente. Por outro lado, é possível que a realidade não seja a mesma com políticos, autoridades, personalidades e demais entrevistados em potencial de outros países.

Dessa forma, o correspondente internacional, ressalta Sylvia, deve ter paciência para cultivar fontes ao longo do tempo, a não ser que permaneça no país por um curto período. Neste caso, a jornalista recomenda que o profissional foque em conteúdos mais acessíveis, como histórias sobre suas próprias observações, para aproveitar a experiência o máximo possível.

Novas ferramentas

“Até o ano passado, usava o Instagram como conta pessoal, mas há alguns meses tenho usado os stories para mostrar o que ocorre na Argentina”, relata Sylvia, que admite estar aprendendo sobre esta e outras novas ferramentas tecnológicas para contar histórias.

A tecnologia serve como aliada para atrair os mais jovens às notícias. De acordo com a correspondente da Folha em Buenos Aires, uma pesquisa do jornal mostrou que a maioria do público de podcast, uma das maiores febres do jornalismo nos últimos tempos, tem entre 18 e 35 anos.

“Ainda não domino a tecnologia do podcast, mas me parece uma ferramenta fantástica. A edição dá muito mais trabalho que os stories do Instagram, que já tomam muito tempo”, afirma a jornalista.

Sylvia, que já participou como convidada de episódios de podcasts que trataram da crise na Venezuela e da política na Argentina, demonstra preocupação apenas com a maneira de ganhar dinheiro com este modelo de negócio.

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