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Onde fica o centro da Argentina?

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 Em uma rixa histórica, moradores das cidades de Córdoba e Buenos Aires competem para ver quem reclama mais de quem.

  Ana Carolina Siedschlag

Passados os fatídicos jogos que eliminaram as seleções brasileira e argentina da Copa do Mundo, uma viagem pelo país hermano mostra que a rivalidade não é um fenômeno exclusivo entre nações: em uma espécie de Rio x São Paulo, Córdoba e Buenos Aires se olham como empecilhos à própria importância dentro da Nação.

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Catedral de Córdob
Casa Rosada - Argentina
Casa Rosada – Argentina

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Córdoba é a segunda cidade mais populosa da Argentina, com cerca de um milhão e 300 mil habitantes. Por estar localizada no centro geográfico do país, é palco de uma discussão histórica sobre a localização adequada da capital administrativa. Tem como base de sua economia o setor secundário, com destaque às montadoras de automóveis, e a exportação de grãos oleosos e de produtos lácteos.

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A Cidade Autônoma de Buenos Aires, fundada por Pedro de Mendoza em 1536, concentra os centros administrativo e econômico do país. Com quase três milhões de habitantes, a cidade atraiu em meados dos anos 1950 levas de migrantes provenientes, principalmente, do norte do país. Hoje, o volume é menor, mas o contingente de estudantes e trabalhadores vindos de outras províncias é significativo.

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Em Córdoba, a grande maioria dos turistas é argentina, especialmente portenha. “Pode-se reconhecer um portenho a quilômetros de distância”, diz Juan Perussich, antropólogo de 57 anos formado pela Universidade de Buenos Aires. O sotaque denuncia: Juan é portenho, mas mora em Córdoba há mais de vinte anos. Diz não querer voltar por ter se acostumado ao ritmo de uma cidade menor. “Córdoba é grande, mas tem comportamento de cidade pequena.”

O correspondente portenho do jornal El País, Alejandro Rebossio, revela ser mais fácil entrevistar pessoas na capital: “Há uma certa dificuldade em fazer as pessoas do interior falarem”. Daniel Lucero, 27 anos, estudante de História nascido e criado na capital, reconhece que os portenhos podem parecer arrogantes de vez em quando. “O que as pessoas do interior dizem é que a imagem que se tem do argentino fora do país, de ser arrogante, preguiçoso, são características da maioria dos portenhos, e nisso eu concordo em parte.” “Esse estranhamento é uma reação natural. Buenos Aires é uma cidade global que atrai gente de todo o mundo, enquanto Córdoba é uma cidade de porte muito menor”, comenta o antropólogo, Juán Perussich.

Buenos Aires tem o metrô mais antigo da América Latina. O primeiro projeto de construção de um trem subterrâneo em Córdoba foi lançado em 2007, sem nunca ter saído do papel. O Aeroporto Internacional de Ezeiza, em Buenos Aires, recebeu mais de três milhões e 900 mil passageiros ao longo do ano de 2009. O Aeroporto Internacional de Córdoba recebeu cerca e 614 mil passageiros no mesmo período. A cidade de Buenos Aires abriga nove universidades públicas, enquanto Córdoba é sede de três.

Aeroporto de Ezeiza
Aeroporto de Ezeiza

 

Metrô de Buenos Aires
Metrô de Buenos Aires

 

 

 

 

 

 

 

A questão do porto no centro da rivalidade

Puerto Buenos Aires
Puerto Buenos Aires

O porto de Buenos Aires também tem uma boa dose de culpa pela rixa. Sendo o maior do país, sempre foi motivo de certa animosidade entre as cidades. Em Córdoba, localizam-se montadoras de carros como Renault e Volkswagen, além de inúmeras outras indústrias do setor manufatureiro. O porto de Buenos Aires é especializado em exportar produtos que não necessitem ser armazenados, o que obriga os exportadores de Córdoba a enviarem caminhões até a capital, localizada a 722 quilômetros de distância. O problema é que Buenos Aires também é uma cidade cuja principal fonte de renda provém do setor secundário. As empresas localizadas na capital acabam por ter muito mais facilidade em exportar seus produtos por um custo baixo.

A situação, porém, era um pouco diferente. Antes, o porto de Buenos Aires e de todas as outras províncias eram administrados pelo Estado argentino. A Lei Nacional dos Portos de 1992 determinou que, com exceção do porto da capital, todos os outros passariam a ser administrados por suas respectivas províncias.

Mesmo ainda nas mãos do Estado, o porto de Buenos Aires acompanhou a descentralização com uma série de licitações que concederam cinco dos seis terminais de carga e mais um terminal de passageiros a três empresas estrangeiras: DP World, dos Emirados Árabes Unidos, APM Terminals, da Holanda, e HPH, das Ilhas Virgens Britânicas. (confira boxe).

Representantes da administração portuária afirmam, porém, que nem sempre as empresas conseguem cumprir a meta apresentada nas licitações. A avaliação do cumprimento da meta é feita mensalmente e, caso o saldo seja negativo, é calculado o Índice de Reajuste do Valor Seguro para as Cargas e estabelecida uma multa a empresa.

O valor da multa é debitado nas contas da administração nacional do porto, porém utilizadas nos manejos do terminal público e da manutenção da estrutura pública do porto da cidade de Buenos Aires.

Estando a mais de oito horas de viagem de caminhão e representando boa parte dos produtos que saem do porto com destino ao exterior, os habitantes de Córdoba podem não ter conhecimento de todos os trâmites legais que fazem de Buenos Aires a cidade mais importante em se tratando de logística de produtos. Sabem, porém, que não foi à toa que os portenhos foram batizados com esse nome. Para o motorista Davi Juarez, 36 anos, “o portenho apaixonado por seu porto nunca conseguiria se acostumar com uma cidade com a mentalidade de Córdoba. É melhor que fiquem lá.”

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