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O tango nos palcos e na vida

tango

Laura Ciampone

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“Desde que se fue
Triste vivo yo
Caminito amigo
Yo también me voy.

Desde que se fue
Nunca más volvió
Seguiré sus pasos
Caminito, adiós.”

Quando pensamos em Argentina, pensamos em tango. Em Carlos Gardel, Juan de Dios Filiberto e Gabino Coria Peñaloza, entre outros, que eternizaram a música citada acima,  inspiração para a famosa rua-museu que é hoje El Caminito.

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Criado em La Plata no final do séc. XIX, o tango aproximava afro-rioplatenses e os imigrantes nos subúrbios da cidade para improvisar ritmos e letras com ar melancólico e nostálgico, falando sobre desamores, amigos, família e claro, Buenos Aires. Toda essa incomum melodia era acompanhada de danças sensuais

Caminito respira Tango. Chegando ao local, uma feira com inúmeras barracas de artesanato, se destaca no verdadeiro museu a céu aberto. Dançarinos com roupas elegantes, pretas, brancas, vermelhas e brilhantes, cobram 100 pesos, o equivalente a 20 reais, para tirarem fotos em poses referentes à dança. Pois a coreografia é uma característica muito marcante da cultura tangueira – importante e interessante para os que vêm de fora. Dançarinos bailando a cada metro que se avança, a cada lugar que se dirige o olhar – esta é a cena!.

 

A dupla que encanta no Caminito

Uma dupla em especial chama a atenção por seu charme no restaurante La Vieja Rotseri. Diego Alejandro Quispe, 32, moreno, alto, de cabelos negros e terno, é um bailarino que começou a dançar tango desde pequeno. “Não me interessava pela dança, mas sim pelas ‘chicas’ na Província de Catamarca, onde eu morava”. Conta que as mais bonitas dançavam, e quis aprender para poder bailar com elas. Mas acabou pegando o gosto. “Eu sempre via como um hobby, mas fui convidado para dançar em uma academia de dança com mais cinco bailarinos aos 18 anos”. Diego naturalmente foi entrando no mercado de trabalho e começou a desejar viver do tango. Após isso, seguiu a carreira e já está no restaurante há 4 anos.

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Sua dupla, Naomi Hotta, uma bela oriental, que estava com um vestido azul turquesa cintilante, também é veterana na carreira. “Dançava salsa em Los Angeles e me interessei pelo tango após a ir à uma milonga (onde se pratica um ritmo de tango acelerado, diferenciado do tango turístico). Ver as pessoas bailando daquela forma sem se comunicar verbalmente, só com o corpo e seus movimentos era linda, parecia mágica”. “Agora posso viver com o tango e estou aqui há 17 meses”.

“O que mais gosto é que é uma família que se abraça e se ajuda, Não importa o lugar em que o tangueiro está ele será sempre bem recebido pelos seus companheiros de dança e profissão.”

A bailarina finaliza dizendo que é muito feliz por estar vivendo dessa forma, mas gostaria de ter mais tempo para sua vida pessoal. “O tango exige muito de meu tempo e dedicação”.

A rotina de dança da cativante dupla é baseada em improvisos nos palcos em que dividem com outros dançarinos no restaurante.

 

Uma noite em um tradicional café portenho

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Declarado lugar de interesse cultural o sofisticado e mais antigo café do país, fundado em 1858, o Gran Café Tortoni promove eventos e shows de tango todos os dias.

Lá trabalha um moreno, alto, de cabelos negros e de terno.  Diego também trabalha em outro lugar. Mas diferentemente do outro Diego do Caminito, treina de duas a três vezes por semana com sua parceira. Utiliza um CD e passam horas bailando e coreografando.

O Tortoni é referência do mais famoso estilo de música argentina. Ao entrar pela enorme porta de madeira e vidro, mergulhamos num universo de quase dois séculos atrás. Um lugar particularmente escuro, coberto por madeira e inúmeros quadros e fotos, é enfeitado também com prateleiras de madeira e mármore. Contém um museu e imagens de importantes personagens do tango e da literatura, como Carlos Gardel, Jorge Luis Borges e Julio Cortázar,  que frequentavam o local.

O show de tango naquela noite de domingo foi apresentado por músicos, bailarinos e a cantora Nora Bilous(58), que contou no que se inspira para escrever as próprias músicas. “Penso na vida, nos desamores. O tango possui uma poesia muito particular. Conto histórias, temas importantes. Uso a música para dizer algo válido.”

Lamenta que o Tango não tenha mais a força na Argentina que tinha antes.

Após os anos 60, a decadência do tango foi decorrente do tempo e o ritmo só voltou a crescer após a crise de 2001 no país, que além de econômica, se voltou para o lado cultural também. O tango estava enferrujado e com a atualização necessária para revivifica-lo apareceram novos estilos, como o Tecnotango.

 

Um espetáculo inesquecível no Tortoni

Sentados em uma mesa do café, um casal da Venezuela que está de férias na Argentina comenta a ansiedade para a performance.

Mariana Beroes(27), já tinha assistido  e disse que “O ar melancólico e romântico das letras combina com a atmosfera e arquitetura de Buenos Aires.

“Já Alexis Rosales(39) nunca tinha presenciado o espetáculo. “Imagino uma história longa e apaixonante”, comentou.

O show começou e a peculiar e agradável voz de Nora (e cantores de tango em geral)  afagam os ouvidos. Após uma hora, os artistas despediram-se dos espectadores e finalizaram o show com “Así se baila el tango” de Alberto  Castillo.

Partindo, o venezuelano Alexis disse “estou encantado”. Comentou que as canções eram minicontos e cada música baseava-se em diferentes assuntos. Acrescentou também que os dançarinos são o complemento dos espetáculos, que dão vida às letras e fazem parte de um belo cenário. Como os demais presentes, saíram encantados.

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