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Saiba quem são os três principais nomes cotados para suceder a Cristina Kirchner

ANA CAROLINA LAZARINI E MAYARA MORAES

DE BUENOS AIRES

Pesquisas apontam que argentinos estão divididos entre os atuais governador da província de Buenos Aires e o prefeito da capital federal

INFOGRÁFIO CANDIDATOS PRONTO

ANA CAROLINA LAZARINI E MAYARA MORAES são jornalistas e participam do “Jornalismo sem Fronteiras”, uma iniciativa da Link Consultoria que leva jornalistas e estudantes de comunicação a Buenos Aires para um mergulho de 9 dias no trabalho de correspondente internacional.

 

Entre o apoio e a oposição: a influência de Cristina Kirchner nas eleições presidenciais

ANA CAROLINA LAZARINI E LUIZA DONATELLI

DE BUENOS AIRES

Apesar da crise e da alta inflação, a presidenta mantém grande índice de popularidade

O cenário das eleições argentinas está dividido entre os candidatos da oposição (PRO – Proposta Republicana) e do partido governista (Partido Justicialista). O apoio oficial de Kirchner ao candidato Scioli, no entanto, mudou a perspectiva de Mauricio Macri que, agora, ocupa o segundo lugar em grande parte dos “termômetros” eleitorais.

Em pesquisa divulgada pela Management & Fit, em julho deste ano, Scioli tem vantagem de aproximadamente 5% em relação ao adversário. A diferença entre os candidatos era, no mês anterior, de menos de 1%.

A crescente de Scioli está ligada a divulgação do nome de Carlos Zanini como vice da chapa peronista Frente para a Vitória. A escolha dele foi imprescindível na conquista dos kirchneristas, visto que Zanini é pessoa de extrema confiança da atual presidenta. Faus Cai, 18, é integrante do movimento de apoio ao governo, La Campora, e opina: “Zanini deixa a tranquilidade de que o projeto pode continuar e gerar mais intenções de voto”.

A parceria entre Scioli e Zanini causou a desistência de Florencio Randazzo, que também se candidataria – nas eleições primárias – pelo Partido Justicialista. A renúncia teria sido motivada pela influência que exerce Zanini no apoio de Kirchner: “Competir contra Carlos Zanini significava competir contra Cristina”, declarou Randazzo no Twitter.

Política e sociedade

Malena Espeche, 23, é estudante de ciência política e milita no Movimento Universitário Evita (MUE – https://www.facebook.com/MUEvitaUBA?fref=ts) na Universidade de Buenos Aires. Ela acredita que a justiça social, a independência econômica e a soberania nacional – os três pilares do peronismo – são o caminho para uma sociedade melhor. A jovem afirma com convicção: “Eu tenho plena confiança em Cristina”. Espeche está descontente com a inflação, mas explica que este cenário não é só culpa do governo. Além disso ressalta que nesses 12 anos de kirchnerismo houve um grande avanço social e que, em sua opinião, é o melhor governo em 50 anos.

O movimento do qual Malena participa apoiava Jorge Taiana nas primárias, porém como ele não foi o selecionado, o candidato escolhido foi Scioli, pois integra a legenda de Kirchner. Espeche diz que o krichnerismo chegou ao fim, mas considera importante alguém com ideias parecidas ocupar o lugar de Cristina – para haver alguma continuidade no processo histórico iniciado.

As convicções do MUE tem como base a imagem de Juan Domingo Perón, Eva Perón, Néstor Kirchner e Cristina Kirchner. Espeche acredita que nem todo kirchnerista é peronista, mas todo peronista é kirchnerista; ela também destaca que existe peronismo e kirchnerismo de esquerda e de direita.

Marta Louvet, 77, avó de Malena Espeche, tem uma opinião politica bem diferente da neta, no entanto, não permite que assuntos polêmicos interfiram na relação familiar: “Na minha casa está proibido falar de política e religião”. A senhora também acrescenta que ela e a neta têm o mesmo objetivo – uma sociedade mais justa e desenvolvida – porém, diferem do caminho para chegar até ele.

Louvet se indigna com a crise: “Doze anos de governo, já não podíamos ter saído dela? […] Precisamos criar fontes de trabalho. Existem algumas gerações de famílias que não sabem o que é isto porque sobrevivem com planos sociais”.

A questão política é muito viva para os argentinos e o debate é acirrado pela polarização. A transição entre governos pode cobrir os argentinos de esperança pela continuidade ou pela mudança. Uma argentina, duas perspectivas.

ANA CAROLINA LAZARINI e LUIZA DONATELLI são jornalistas e participam do “Jornalismo sem Fronteiras”, uma iniciativa da Link Consultoria que leva jornalistas e estudantes de comunicação a Buenos Aires para um mergulho de 9 dias no trabalho de correspondente internacional.

Com eleições em outubro, Cristina Kirchner pode representar o fim do kirchnerismo

JULIANA AMÉRICO, LETÍCIA TEIXEIRA E JOSEFINA LAGRECA

DE BUENOS AIRES

Depois de 12 anos no poder, a Era Kirchner pode estar chegando ao fim, sem um herdeiro totalmente garantido

JULIANA AMÉRICO, LETÍCIA TEIXEIRA e JOSEFINA LAGRECA são jornalistas e participam do “Jornalismo sem Fronteiras”, uma iniciativa da Link Consultoria que leva jornalistas e estudantes de comunicação a Buenos Aires para um mergulho de 9 dias no trabalho de correspondente internacional.

 

Mesmo após Cristina deixar o poder, história do kirchnerismo continua a ser escrita

RHAYAN LEMES

DE BUENOS AIRES

Presidente deixa Casa Rosada, mas leva dezenas de denúncias que podem manchar capítulos do kirchnerismo

Quando entregar a faixa presidencial ao seu sucessor em dezembro, a presidente argentina, Cristina Kirchner, deixará oficialmente para trás, na história do país, uma era de 12 anos de poder construída desde a posse de seu marido, Néstor, em 2003. Mas levará na bagagem dezenas de denúncias de corrupção que deixaram marcas profundas e mancham esse legado.

Veja aqui o infográfico com a linha do tempo dos casos
“Há tantos (casos) que poderiam ser qualificados como emblemáticos que é difícil selecionar um ou dois”, destaca Leandro Despouy, chefe da Auditoria Geral da Nação, que monitorou as contas durante todo o período do governo kirchnerista, em entrevista a um jornal local.

Nas ruas, os argentinos tecem críticas ao que classificam como “impunidade” o fato de as denúncias que atingiram a cúpula do governo durante toda gestão não resultarem em “condenações efetivas”.

“Houve muitos casos com histórias mal contadas, mas que não são investigados profundamente. Não conheço nenhum caso de político que esteja preso por corrupção. Roubam e não são presos”, diz o dono de um pet shop em Buenos Aires, Santiago Maciel, 32 anos, durante seu passeio diário com cães em um parque do centro da capital.

Rodeado de cães, Santiago diz que falta investigação aprofundada para punir corruptos

A insatisfação expressada atravessa gerações: tanto os mais velhos quanto os jovens se dizem “descontentes” com o “caos político” e não preveem um futuro diferente na política do país, seja qual for o resultado da eleição presidencial deste ano.

“Sou bem cética de que a corrupção acabe. Um governo tem poder e abusa dele. O poder corrompe as pessoas. Tenho ideias de um país melhor, mas sei dos interesses do poder”, afirma a estudante de Antropologia Gaia Quintana, 18 anos.

Para o advogado Henrique, 56 anos, que prefere não revelar seu sobrenome por medo de represálias, “a Justiça está debilitada porque há uma forte interferência do Executivo”. “Só há mudança se a população cobrar a criação de organismos de controle eficazes, mas como a corrupção também se dá no campo intelectual, as pessoas são levadas a crer em argumentos que só as tornam meros eleitores que não refletem os acontecimentos. Por isso creio que não haja mudança”, diz.

Desacreditado na política e na Justiça, o cuidador de animais Victor Anicet, 40 anos, acredita que “só os menos favorecidos são punidos”. “Virou o país da impunidade para os políticos corruptos”, enfatiza.

Cristina Kirchner deixa a Presidência da Argentina em dezembro. Foto: Reprodução
Cristina Kirchner deixa a Presidência da Argentina em dezembro. Foto: Reprodução

PÓDIO

Nesta semana, o chefe de Auditoria Geral da Nação, Leandro Despouy, afirmou, em entrevista ao jornal “La Nacion”, que a corrupção chegou ao pódio nos 12 anos de kirchnerismo.

Ele produziu um livro com o resultado do trabalho e adiantou, sem mostrar gráficos e números, que houve desvios nos contratos dos setores de transportes, além de corrupção em programas sociais, cujo desvio seria de mais de seis milhões de pesos entre 2009 e 2015.

“Em gestão de saúde e programas sociais temos visto coisas dilacerantes. Vimos como a gestão ilegal de fundos afeta diretamente as pessoas”, afirmou, sem dar muitos detalhes. Despouy também se queixou da ausência de dados fornecidos pelo governo para dar transparência a contratos.

 

POPULARIDADE

Apesar de enfrentar duras críticas, principalmente de opositores, a popularidade da presidente Cristina Kirchner se mantém alta, em 40% de aprovação, após atingir 30% em fevereiro, segundo uma empresa de pesquisas de Buenos Aires. A rejeição havia sido registrada no início do ano após a misteriosa morte do promotor Alberto Nisman.

Nesse contexto, enquanto os processos se arrastam e a população aguarda uma resposta efetiva, a história continua sendo escrita e ainda pode acrescentar novos desfechos da Era Kirchner no poder. Um indício disso é que, no final de junho, o Tribunal de Apelação argentino validou as acusações contra o vice-presidente do país, Amado Boudou, que poderá ser julgado por corrupção passiva.

Boudou é acusado de ter ajudado amigos empresários quando era ministro da Economia ao lançar um plano de salvamento de uma empresa em dificuldades, a Ciccone Calcografica, hoje nacionalizada, que imprime notas de dinheiro. Em 2010, ele teria adquirido 70% da empresa.

No entanto, mais páginas devem ser adicionadas neste capítulo, uma vez que Boudou ainda pode recorrer ao Supremo Tribunal do país para tentar evitar o processo e uma possível condenação.

RHAYAN LEMES é jornalista e participa do “Jornalismo sem Fronteiras”, uma iniciativa da Link Consultoria que leva jornalistas e estudantes de comunicação a Buenos Aires para um mergulho de nove dias no trabalho de correspondente internacional.

 

Mecanismos de defesa

LUIS OTTONI

DE BUENOS AIRES

Organizações apartidárias argentinas trabalham em prol da transparência política

Entre bares, cafés, tango e protestos, a corrupção é um problema recorrente na Argentina. Com  a aproximação das eleições presidenciais em outubro, a mídia anuncia um estado de incerteza. A inflação sobe constantemente e o contraste entre classes passa a ser mais visível entre um bairro e outro da capital porteña.

Assim como ocorre no Brasil, a corrupção na Argentina não recebe a punição devida. No governo Kirchnerista, que já está no poder há 12 anos, muitos casos continuam sem punição.

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Protestos são quase diários na plaza de mayo, o marco inicial da capital portenã. Antes de uma eleição, não há debate político na televisão e, para se integrar sobre as propostas dos governantes, deve-se correr atrás das organizações que o representam ou a organizações apartidárias que busquem uma política argentina participativa e transparente.

“Não existe políticas anti-corrupção ou que possam frear os atos impróprios do governo”, denota a estudante argentina Maria Fabiola, 26. Ela explica que escândalos de corrupção envolvendo empresas fantasmas são cada vez mais frequentes. “Existem várias causas de corrupção abertas que nunca recebem conclusões ”, indaga.

 

EM BUSCA DA TRANSPARÊNCIA

“Incidimos em políticas contra corrupção e alertamos constantemente os riscos dela para a sociedade”, explica German Emanuelle, diretor de justiça e relação com o cidadão da fundação apartidária “Poder Ciudadano” que, desde 1989, incentiva e promove a participação na resolução de problemas públicos.

Emanuelle explica que a fundação visa a transparência, controle e análise dos atos do governo e da máquina pública. Para isso, eles contam com uma clínica de atendimento jurídico que recebe e apura denúncias de ONGS e pessoas físicas.

A CIPPEC (Centro de Implementação de Políticas Públicas para a Igualdade e o Crescimento), também apartidária e independente, promove e acompanha medidas de desenvolvimento social e econômico. “Aqui trabalhamos por um estado justo e democrático”, explica Dolores Arrieta, diretora de comunicação da instituição. Entre os feitos da CIPPEC está o decreto de lei que regula o acesso à informação pública, responsável por pressionar o poder executivo argentino a divulgar detalhadamente seus atos.

“Às vezes brinco que o jornalismo que fazemos é a adaptação do jornalismo puro às novas mídias digitais, onde qualquer um tem acesso a informação que queira.”

 

VERIFICANDO OS FATOS

O leque de veracidade nos discursos políticos argentinos incentivaram a criação do site Chequeado, em 2010. Fundado por três porteños: um físico, um economista e um argentino, o portal investiga depoimentos políticos, analisa os dados e disponibiliza as ferramentas e canais utilizados para chegar a conclusões.

Laura Zommer, diretora executiva e jornalística do Chequeado, explica que a mídia argentina sempre foi polarizada e rígida em defender seus interesses privados. “O governo sabe que no Chequeado buscaremos e divulgaremos a verdade. Às vezes brinco que o jornalismo que praticamos é a adaptação do jornalismo puro às novas mídias digitais, onde qualquer um tem acesso a informação que queira”, assegura Zommer quando perguntada sobre a relação do site com o governo atual. Ela também explica que os fundos que financiam o portal são publicamente declarados e qualquer pessoa pode colaborar.

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Segundo o Centro de Investigación y Prevención de Criminalidad Económica, um caso de corrupção na argentina demora cerca de 14 anos para ser apurado. As organizações de transparência trabalham como mecanismos de defesa para mudar esse histórico e pressionar o governo a exercer transparência pública.

As polêmicas não resolvidas do Kirchnerismo têm rumo incerto já que Cristina deixa o poder em outubro e ainda não declarou a sua próxima aliança.

LUIS OTTONI é jornalista e participa do “Jornalismo Sem Fronteiras”, uma iniciativa da Link Consultoria que leva estudantes de comunicação a Buenos Aires para um mergulho de 9 dias no trabalho de um correspondente internacional.

 

O uso de netbooks aplicados à educação primária e secundária

BÁRBARA MUNIZ E LUAN LOPEZ

DE BUENOS AIRES

Proposta inovadora com o uso de netbooks nas salas de aula enfrenta desafios estruturais para docentes portenhos.

As paredes de tijolo e o portão metálico abrigam risadas, passos e vultos de crianças que acabam de chegar à “Escuela Municipal Evaristo Julio Badía”, uma das 50 mil escolas argentinas que recebem alunos de 5 à 11 anos. Os pais e responsáveis deixam seus filhos uniformizados com jalecos brancos em frente ao portão às 13h. Também vestidos com jaleco, os professores esperam os alunos na entrada principal e, juntos, todos sobem as escadas para as salas de aula, ambientes envidraçados que parecem imitar um aquário. Quem passar pelo corredor pode ver, em detalhes, o que acontece dentro de cada sala e, às 13h15, começa a primeira aula do período da tarde.

Escuela Municipal Evaristo Julio Badia de ensino primário e secundário
Escuela Municipal Evaristo Julio Badia de ensino primário e secundário

Uma das peculiaridades do ensino básico argentino é o uso de computadores adaptados para o ensino dentro e fora da sala de aula. A professora Luciana Tedesco, que há três anos trabalha na Escuela Evaristo Julio Badía, contou sobre a inserção dos netbooks como material curricular dos alunos desde as primeiras séries. “Os netbooks foram implementados na escola em 2012, contudo, eu sou a única professora que utiliza-os como parte da aula”, afirma a docente. O Programa Conectar Igualdad, administrado pela prefeitura da Cidade Autônoma de Buenos Aires, foi o motor responsável pela inclusão do material digital no cotidiano escolar nas escolas públicas portenhas.

Os netbooks são ferramentas individuais de direito dos alunos desde que estejam matriculadas nas instituições que participam da iniciativa governamental. As crianças têm acesso à internet através da rede disponibilizada por cada filial escolar. Os aplicativos que acompanham os dispositivos são versões simplificadas de programas tradicionais voltados para criação de textos, apresentação de slides, elaboração de tabelas etc. Tão simplificados que, às vezes, dificultam a compreensão dos professores.

Netbook utilizado pelas 43 mil escolas vinculadas ao programa Conectar Igualdad
Netbook utilizado pelas 43 mil escolas vinculadas ao programa Conectar Igualdad

Contudo, a iniciativa não funciona exatamente da forma como deveria. Ao mesmo tempo em que todas as instituições municipais participantes têm acesso a tal recurso de inclusão digital, a manutenção das máquinas deixa a desejar da parte dos provedores dos netbooks. O número de equipamentos é insuficiente em relação ao número de alunos matriculados e com direito ao livre acesso do material. A rede de internet sem fio possui uma péssima conexão – os funcionários enfrentam dias com baixa velocidade de conexão, o que prejudica o rendimento das aulas. Outra questão importante é a quantidade de professores desencorajados a incluir o material digital nas aulas ministradas.

 

Quando a solução vira problema

De acordo com Luciana Tedesco, as aulas que incluem os recursos digitais levam o triplo do tempo para serem preparadas. Além do mais, os professores mais idosos não estão familiarizados com este tipo de tecnologia e não conseguem construir uma relação de ensino em multiplataformas com os alunos, que, na contrapartida, têm muita vontade e facilidade para aprender a manusear os netbooks. “A tecnologia é utilizada como ferramenta para reforçar os conteúdos que foram ensinados anteriormente. Por exemplo, os alunos do quarto ano aprenderam a fazer linhas do tempo. A princípio, eles aprenderam a lê-las, em seguida desenharam-nas e, então, a etapa final baseou-se na construção de uma linha do tempo utilizando um programa de computador adaptado para crianças, que ainda não manuseiam as máquinas com tanta agilidade”, explica.

A metodologia das escolas que contam com os recursos digitais pauta-se na introdução à computação para as crianças, que entram em contato com instrumentos digitais intuitivamente e cada vez mais cedo. Beatriz Battaglino, facilitadora pedagógica digital da escola, ressalta que a inserção de equipamentos digitais é uma via de mão dupla; enquanto as tecnologias desenvolvem-se rapidamente, o processo de adaptação, principalmente por parte dos docentes, tende a ser de longo prazo. “Não podemos classificar a qualidade do desenvolvimento do projeto. É um momento de transição, uma adaptação que ainda levará anos”, prevê a professora.

Beatriz Battaglino, facilitadora pedagógica digital explica como funciona a aplicação dos netbooks no dia-a-dia escolar: "É um momento de transição, uma adaptação que levará anos."
Beatriz Battaglino, facilitadora pedagógica digital explica como funciona a aplicação dos netbooks no dia-a-dia escolar: “É um momento de transição, uma adaptação que levará anos.”

 

 

Além dos problemas técnicos que abalam os alicerces da questão da inclusão digital nas instituições, o despreparo dos docentes é o principal agravante da instabilidade do sistema, tanto na visão de Luciana, como na visão dos sindicatos da categoria.
A educação de acordo com o Ministério

O Ministério da Educação, por sua vez, trouxe à voga o Plano Nuestra Escuela, um programa universal (que abrange escolas públicas e particulares) e gratuito de capacitação profissional para todos os docentes, financiado pelo Estado Federal. A natureza política-pedagógica do projeto se constitui pela participação de todos os sindicatos de docentes, do Ministério da Educação, em si, e do Governo Federal através da fundação do Conselho Federal de Educação, órgão designado essencial e exclusivamente para políticas educativas, algo que não existia até o ano de 2007.

Veronica Piovani, coordenadora da Comissão Regional de Formação de Docentes do Ministério da Educação, caracteriza o programa como uma transformação curricular com um sistema de auto avaliação pelo Conselho Federal de Educação.  A iniciativa se destrincha em duas vertentes: estabelecer a educação como um direito pessoal e social – um bem inerente ao cidadão, acima de tudo – e reconhecer o docente como ator coletivo, empoderando a sua capacitação e formação. Por outro viés, o projeto Nuestra Escuela busca duplicar os investimentos em educação advindos do governo.

O ponto mais importante, dentre todos dos trâmites que envolvem o projeto, é a sanção de uma nova lei, que estabelece a discussão para definir a educação como bem público e social. Um direito pessoal e social em detrimento de uma mercadoria, como a questão é usualmente tratada.

Na Argentina, a formação dos docentes se dá através do ingresso nas universidades ou por sistemas terciários (cursos técnicos). Luciana Tedesco, todavia, tece críticas à respeito da abordagem metodológica do suporte aos professores. “Ensinam aos professores do Ensino Primário ideias básicas de programação. Não sei se esse é o recurso que precisamos, enquanto recebemos apenas tutoriais para manejar os programas mais importantes e didático-educativos. Nós também precisamos reaprender a usar diversos programas, pois muitos são modificados completamente por serem adaptados para as crianças.”

Coordenadora da comissão regional de formação de docentes do ministério da educação da Argentina, Veronica Piovani explica como funciona o programa nacional de formação permanente Nuestra Escuela.
Coordenadora da comissão regional de formação de docentes do ministério da educação da Argentina, Veronica Piovani explica como funciona o programa nacional de formação permanente Nuestra Escuela.

A inclusão digital como currículo disciplinar na escola abordada pela reportagem transformou-se também em uma matéria de inclusão social. O programa possibilitou que dois alunos diagnosticados com autismo e um aluno portador de deficiência motora se reintegrassem à grade curricular. Enquanto um dos alunos autistas estabeleceu uma relação com a máquina, que estimulou o desenvolvimento da sua aprendizagem e facilitou o trabalho do professor, o aluno com dificuldades motoras encontrou na máquina um suporte, que neste âmbito, ajudou-o no processo de alfabetização.

A Argentina está à frente do Brasil em alguns índices qualitativos de ensino. A porcentagem de analfabetos, por exemplo, é dez vezes menor que a taxa brasileira. Além disso, não há uma distinção clara na qualidade de ensino entre o setor público e privado. De acordo com o professor doutor em ciências sociais da Universidad Catolica Argentina, Daniel Gutman, o salário do professor do ensino infanto-juvenil aumentou nos últimos tempos, mas ainda falta preparação destes docentes. “Existe o programa de capacitação de professores, todavia, alguns não conseguem lidar com a tecnologia. Há também uma certa resistência dos grêmios docentes a entrar no novo plano curricular do secundário.” Explica o docente, atribuindo esses problemas como causas de déficits educacionais, como a dificuldade em interpretar textos acadêmicos e expressar-se ou articular os autores da bibliografia básica.

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Bárbara Muniz e Luan Lopez são jornalistas e participam do Jornalismo Sem Fronteiras, uma iniciativa da Link Consultoria que leva jornalistas e estudantes de comunicação social à Buenos Aires para um mergulho de nove dias em um trabalho de correspondente internacional.

 

Solução para crise deve definir eleição

ANA ARDITO E MATHEUS CASTRO

DE BUENOS AIRES

A caminho das urnas, situação econômica da Argentina preocupa os eleitores

Um ônibus velho, verde e com a propaganda do Papa Francisco percorre a avenida Santa Fé, em Buenos Aires. Lotado, ele para na esquina com rua Libertad e muitos passageiros deixam o transporte. Entre eles, um homem de meia idade e um pouco acima do peso. Dario Altamiranda, garçom há quatro anos em Buenos Aires, substituiu o conforto do carro  próprio pelo transporte público durante os dias da semana para economizar seus pesos. Além disso, roupas, cinema e viagem ficaram em segundo plano; a prioridade agora é pagar as contas. Dario não hesita em dizer que está desanimado com a conjuntura econômica de seu país: “Tudo o que ganho vai para comida e impostos, meu dinheiro não dura mais nada. Morar aqui está muito triste e ruim”.  Por esse motivo, ele pensa em se mudar para o Chile ou para o Brasil em busca de melhor qualidade de vida.

Com a crise, muitas lojas no centro de Buenos Aires fecharam
Com a crise, muitas lojas no centro de Buenos Aires fecharam

A Argentina vive hoje uma crise que nem se compara com a de 2001. Entretanto, o jornalista econômico Alejandro Rebossio afirma que a inflação – a média do crescimento dos preços de um conjunto de bens e serviços – alcança um patamar alarmante, assim como o desemprego. A desvalorização da moeda assusta uma vez que um Dólar Americano vale nove Pesos Argentinos no câmbio oficial e no mercado paralelo pode ser comprado por até 13 pesos. Outro aspecto preocupante da gestão Kirchner é a manipulação de índices sócio-econômicos do Instituto Nacional de Estatística e Censo (INDEC), o IBGE argentino. Há uma diferença de até dez pontos percentuais nas estatísticas apuradas pelas consultorias econômicas. Em outubro, o novo presidente da Argentina será eleito por convencer a população que seu plano econômico é o mais coerente. Essa escolha definirá como o país vai enfrentar a atual crise.

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O taxista Cláudio Gimenez ressalta: “100 pesos não valem mais nada! Ano passado eu conseguia comprar dois quilos de carne, hoje compro menos que um quilo e meio”. Por isso, ele prefere que seus passageiros paguem em dólar.

“Em outubro, o novo presidente da Argentina será eleito por convencer a população que seu plano econômico é o mais coerente.”

Cresce o número de pobreza na Argentina
Cresce o número de pobreza na Argentina

Ademais, engana-se quem pensa que a inflação de 26% avaliada pelo mercado atingiu apenas as pessoas de baixa renda. Os cremes importados da aposentada e ex-funcionária pública, Corina Groppiu, deram lugar aos cosméticos mais acessíveis e, sobretudo, nacionais. As refeições feitas em bons restaurantes eram frequentes, até quatro vezes por semana, mas agora a ordem é economizar e por isso esse hábito foi reduzido. Formas de entretenimento mais acessíveis, como o cinema, tomaram conta da agenda dos argentinos de classe média alta.

Há dois anos, o número de vendas ou aluguel aumentou
Há dois anos, o número de vendas ou aluguel aumentou

A Argentina vive grande dificuldade de retomar o crescimento econômico. O resultado das eleições pode mudar esse cenário. “O fortalecimento da economia e os investimentos privados poderiam servir como alternativa, mas os empresários não confiam no governo e querem esperar o próximo para investir” afirma o economista Antônio Carlos Lobão.

 

 

ANA ARDITO e MATHEUS CASTRO são jornalistas e participam do “Jornalismo sem Fronteiras”, uma iniciativa da Link Consultoria que leva jornalistas e estudantes de comunicação a Buenos Aires para um mergulho de 9 dias no trabalho de correspondente internacional.

 

Entenda a divisão de poderes no Brasil e na Argentina

LUIZA DONATELLI E JOÃO LUIZ ONETY

DE BUENOS AIRES

A medida é uma forma de evitar arbitrariedades e seu mau funcionamento pode comprometer o desenvolvimento socioeconômico de um Estado.

A forma organizacional de um país está diretamente relacionada a legitimação do poder – seja ele mais ou menos concentrado. Dessa forma essa variável estrutura as relações e torna eficaz ou não sua administração.

Quando D. João VI se estabeleceu no Brasil foram criadas as capitanias hereditárias, demarcação de grandes porções de terras entregues ao gerenciamento da elite portuguesa. O objetivo era a manutenção do território e uma fácil logística. Essa foi a primeira tentativa de integrar o vasto território do país, mas, como sabemos, não foi efetiva.

Hoje, de acordo com a Constituição de 1988, que está em vigor, o Brasil é uma República Federativa, ou seja, a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal são divisões territoriais autônomas e interdependentes.

Os três poderes – Legislativo, Executivo e Judiciário – estão presentes em cada parcela da demarcação dos Estados da Federação. Tanto o repartimento do poder pelas funções quanto por critérios geográficos pretendem tornar o Estado mais eficiente na conquista dos objetivos descritos na Constituição. Além disso, esse panorama é essencial para combater as arbitrariedades de poder.

Na Argentina também foi escolhido o sistema federalista; sobre ele o atual governador da província de San Juan, José Luis Gioja, comenta: “[…] apesar do doloroso processo o qual se uniram as distintas províncias, nossos constituintes manifestaram uma real convicção federalista ao outorgar sua personalidade jurídica e política”.

 

A divisão dos poderes, entretanto, às vezes não acontece por igual na prática; ou seja, um poder ganha força e acaba se sobressaindo em detrimento dos outros.

No Brasil foi eleito em 2014 o Congresso mais conservador dos últimos 50 anos, segundo o Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), fazendo oposição ao poder executivo.

Recentemente ganhou destaque o caso da diminuição da maioridade penal. Foi elaborada uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que previa a alteração de 18 para 16 anos de idade. No primeiro de julho foi votada a proposta que previa redução da maioridade para crimes hediondos, mas não obteve votos suficientes da Câmara dos Deputados. No entanto, em menos de 24h, foi alterado o projeto, enxugando casos que previam a diminuição, e o presidente da casa, Eduardo Cunha, colocou novamente para votação e desta vez foi aprovada. A alteração da PEC 171/1993 e a convocação para outro pleito são medidas que foram consideradas inconstitucionais por alguns deputados.

Porém para haver de fato mudança na Constituição deverá ser aprovada mais uma vez na Câmara, duas no Senado e ser aprovada pelo presidente da república. Dilma, no entanto, posiciona-se contra esta medida.

 

Um recente protesto realizado em Buenos Aires mostrou o descontentamento com o Poder Judiciário. A aprovação da lei que permitiu o deslocamento da função do juiz Luis María Cabral foi a gota d’água. Em entrevista para o jornal La Nacion no final do mês passado, o próprio Cabral afirma que essa alteração é ilegal e inconstitucional.

 

A Associação de Magistrados e Funcionários da Justiça Nacional (AMFJN) convocou a manifestação, que reuniu cinco mil pessoas na Plaza Lavalle. Segundo o veículo mais popular da Argentina, o Clarín, o presidente da AMFJN afirmou: “A única justiça legítima é a justiça independente… a intenção é subordinar o Poder Judicial”.

Outro caso emblemático que gerou muita discussão no começo do ano foi a morte do procurador Alberto Nisman. Hoje, alguns meses depois do ocorrido, ainda restam dúvidas quanto a natureza dos fatos: se foi caso de suicídio ou assassinato. As evidências do local foram contaminadas, ou seja, o exame do local do crime foi feito de maneira incorreta, colaborando para incertezas em relação ao caso.

 

A divisão dos poderes é, assim, muito importante para a manutenção da democracia e, uma vez que são dependentes, estabelecer uma harmonia é essencial para atingir os objetivos previstos na constituição federal.

 

LUIZA DONATELLI e JOÃO LUIZ ONETY são jornalistas e integrantes do “Jornalismo Sem Fronteiras”, uma iniciativa da link consultoria que leva estudantes de comunicação a Buenos Aires para um mergulho de 9 dias no trabalho de um correspondente internacional.

 

Via sustentável

MARIANA GONZALEZ E MARTHA AMORIM

DE BUENOS AIRES

Como Buenos Aires, a segunda maior cidade da América do Sul, promove mobilidade urbana ecologicamente correta

 

Mariana Gonzalez e Martha Amorim são jornalistas e integrantes do “Jornalismo Sem Fronteiras”, uma iniciativa da link consultoria que leva estudantes de comunicação a Buenos Aires para um mergulho de 9 dias no trabalho de um correspondente internacional.

 

Rompendo barreiras

HELOÍSA BARRENSE E GABRIELA PINNA
DE BUENOS AIRES

Os programas sociais na América Latina têm sido temas de muitas pesquisas devido aos seus mecanismos de funcionamento e impactos nos países que são aplicados.

Em 2013, o professor da Universidade de Cambrige, Gabriel Palma, apresentou um seminário em São Paulo defendendo a ideia de que a América Latina mantém uma das maiores desigualdades de renda do mundo, atrás apenas de países da África subsaariana. Entretanto, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entidade internacional cujo objetivo é debater sobre os problemas econômicos dos países signatários, a desigualdade de renda vem reduzindo na América Latina desde meados dos anos 1990.

É fato que, durante os últimos governos latino-americanos, a pobreza foi uma pauta bastante polêmica e debatida, não só entre os governantes, mas também pela própria população. No Brasil, uma das potências subdesenvolvidas do mundo, e na Argentina, país de grande influência econômica no Mercosul, programas como o Bolsa Família ou o Asignación Universal por Hijos (AUH) têm ganhado, cada vez mais, visibilidade nos jornais locais.

Como funcionam

Apesar de possuir objetivos e mecanismos de funcionamento um pouco distintos, ambos os programas são constantemente comparados um com o outro. Criado em 2004, pelo governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, o Bolsa Família busca combater a miséria e a fome brasileira, apoiando famílias de pouca renda com dinheiro e cestas básica. Já o AUH, implantado pela presidenta Cristina Kirchner no ano de 2009, tem como foco principal mulheres grávidas, filhos menores de idade e desempregados no país, visando sua inserção social no mercado de trabalho.

Cristina Kirchner e Luís Inácio Lula da Silva. Foto: Presidencia de La Nacion Argentina
Cristina Kirchner e Luís Inácio Lula da Silva. Foto: Presidencia de La Nacion Argentina

Para receber o benefício, ambos os países calculam a linha de pobreza proporcional às suas realidades. Na Argentina, o cálculo é feito através da Cesta Total, ou seja, o conjunto do que é relacionado ao número de alimentos e bens de consumo necessários a um indivíduo na sociedade. Aqueles que não atingem a renda mensal equivalente a essa cesta são considerados pobres. Por conseguinte, no caso do Brasil, apesar de ser usado também o método da Cesta, a comparação com o salário mínimo é mais frequente para determinar a pobreza. Se a renda domiciliar per capita for igual ou menor que o salário mínimo, o indivíduo é considerado pobre.

Dessa maneira, os dois governos administram quem recebe o benefício por meio dessa média. Com o AUH, o valor mínimo de aproximadamente $ 270 (R$ 90) é redirecionado para um dos pais, priorizando a mãe, de um filho menor de idade ou deficiente físico. A peculiaridade deste programa é que o beneficiário só recebe 80% da quantia total, os outros 20% poderão ser retirados ao fim do ano com a comprovação de que a família cumpriu com as obrigações de saúde e educação necessárias, como a vacinação da criança em dia, frequência escolar e acompanhamento médico das gestantes. O valor aumenta de acordo com a quantidade de filhos e se eles possuem algum tipo de deficiência ou não.

Já o Bolsa Família possui um valor mínimo de R$ 70 reais para aqueles indivíduos considerados pobres e de R$ 140 para os que já estão no nível de extrema pobreza. Os valores também se alteram de acordo com a quantidade de filhos, com um teto de R$ 306,00. Podem participar quaisquer famílias que se encaixem no perfil definido, desde que também mantenham a saúde e a educação dos filhos atualizadas. Além disso, um dos compromissos do programa é evitar o trabalho infantil, recorrente com crianças e adolescentes advindos de círculos menos abastados, vulneráveis no país.

Impacto nos países

Diante desse cenário, muitas mudanças ocorreram nos países. No Brasil, onde 93% das titulares do Bolsa Família são mulheres, a autonomia já se torna visível. Segundo a antropóloga Walquiria Leão Rego, em seu livro Vozes do Bolsa Família: autonomia, dinheiro e cidadania, o poder de consumo direcionado às mulheres dão mais voz e, consequentemente, as empoderam. Para muitas delas, ter uma renda fixa pela primeira vez acarreta em diversas vitórias: o divórcio torna-se uma realidade, ainda que tímida, encerrando muitos casos de violência doméstica. Além disso, métodos anticoncepcionais se tornaram mais acessíveis, diminuindo a taxa de natalidade.

Outro aspecto impactante é a retirada de milhares de pessoas de uma situação de extrema pobreza no país. Desde seu início, cerca de 1,7 milhão de famílias deixaram o programa por atingir uma renda superior aos limites da pobreza. Entretanto, esses dados não demonstram com precisão melhoria nas condições de vida das pessoas, já que o que se busca resolver é o poder de consumo das famílias.

Na Argentina, onde o programa é relativamente mais novo quando comparado à empreitada brasileira, alguns impactos já foram percebidos. Segundo relatório da Unicef acerca do tema, há uma maior demanda de lugares nas escolas por pessoas que recebem o AUH, demonstrando que de fato houve uma inserção educacional das crianças relacionadas ao programa. Na Grande Buenos Aires, por exemplo, a demanda maior é daqueles que têm entre 17-18 anos que não terminaram os estudos, mas que, graças ao programa, podem voltar. Além disso, segundo a INDEC (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos da Argentina), a incidência de indigentes no país, depois da aplicação do programa, reduziu significantemente.

Mães e crianças beneficiárias do AUH Foto: Portal del sur
Mães e crianças beneficiárias do AUH
Foto: Portal del sur

Preconceitos e críticas

            Ainda que programas sociais semelhantes sejam recorrentes por toda a América Latina e tenham causado impactos positivos, muitas críticas de estudiosos são feitas a eles. Dentre elas, o fato de ser um sistema assistencialista que supre as necessidades básicas e imediatas, como alimentação e moradia, mas não propõe retirar os participantes da vulnerabilidade que se encontram. Assim, apenas transforma os pobres em novos consumidores.

Entretanto, por se tratar de programas de transferência de renda, muitos outros cidadãos alegam se sentir prejudicados por pagar impostos e não receberem retorno. Dessa maneira, é recorrente disseminar informações falsas para deslegitimar o benefício, como foi o caso, por exemplo, da senadora Hilda Duhalde , que afirmou ainda este ano que garotas de 12 e 13 anos engravidam para participar do plano. Entretanto, o site de verificação de notícias, Chequeado, publicou que essa é uma afirmação sem embasamento científico, apesar de ser divulgada também por outras autoridades, e segundo os dados encontrados pela organização, o número de beneficiários e filhos inscritos no programa se manteve estável até agora.

A pobreza ainda é visível nas ruas da argentina Foto: Misiones Digital
A pobreza ainda é visível nas ruas da argentina
Foto: Misiones Digital

Com boatos e críticas, os programas seguem causando grande impacto social nos países. Tema extremamente debatido nas eleições de 2014 no Brasil e na de 2015 na Argentina, gera polêmica e divide opiniões. Entretanto, ao que parece, serão programas muito difíceis de serem encerrados.

 

HELOÍSA BARRENSE e GABRIELA PINNA são jornalistas e participam do “Jornalismo sem Fronteiras”, uma iniciativa da Link Consultoria que leva jornalistas e estudantes de comunicação a Buenos Aires para um mergulho de 9 dias no trabalho de correspondente internacional.

 

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